Trago do mural da Rita Dantas, com a habitual admiração que tenho pela sua capacidade de ser breve e incisiva nas análises:
"Uma notinha rápida sobre isto dos "votos de protesto". Regra geral, em caso de votos significativos em partidos de extrema esquerda ou de extrema direita, são comuns as vozes paternalistas de que são apenas votos de protesto.
Nalguns casos, serão. Mas, como a história recente demonstrou, há formas de protesto e formas de protesto, e algumas delas são particularmente violentas.
As pessoas que escolheram "protestar" esposando a mensagem do Chega têm o direito de serem levadas a sério, e como tal, de serem consideradas responsáveis pela violência, escolhi a palavra com muito cuidado, que o seu voto representa para o espaço público.
Sempre que um racista se assume, e muito especialmente quando ninguém o manda calar, milhares de pessoas estão automaticamente menos seguras no espaço público.
Sempre que, em nome de populações desfavorecidas, se culpa outras populações ainda mais desfavorecidas, cimenta-se o privilégio das que beneficiam da miséria de todas elas.
Sempre que a verdade é tratada como uma metáfora especialmente plástica, a democracia treme.
Os votos no Chega podem ter sido votos de protesto, mas somos responsáveis pela forma como protestamos. E a minha opinião sobre o protesto de cada um dos eleitores de André Ventura é que ele é nojento (escolhi outra vez a palavra com muito cuidado).
Por último: há lições para a esquerda nestas eleições? Há. A de que têm de saber canalizar, de entre os protestos sociais legítimos, aqueles que são os seus, sem assumir que virão ao seu encontro por direito.
Há lições para o chamado arco governativo? Há. A de que os centrões são, sempre foram mas hoje são mais, perigosos para a democracia. A democracia faz-se de escolhas.
Há lições para os media? Há. A de que as escolhas que fazem quando amplificam ideias criminosas, sem as confrontar com a verdade nem assinalar como tal, são graves e têm consequências gravosas.
São os media, enfraquecidos, secundarizados, em busca permanente de audiências, a nossa melhor arma "antiga" contra a plasticidade da verdade.
Por último, há a lição óbvia: não, se ficarmos todos muito caladinhos e evitarmos dizer as palavras "André Ventura", ele não desaparece por magia. Achei que isso tinha ficado claro com o Voldemort."
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O que me lembra uma conversa que tive na Costa Rica, com um jovem de Limón, que se queixava que o governo descuidava sistematicamente a costa caribeña, deixando aquela região na pobreza.
Disse eu: "se votassem todos no partido comunista, o governo nunca mais se esquecia de vocês."
Respondeu ele, completamente perplexo: "mas nós queremos continuar a ser uma democracia!"
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