Ontem, enquanto fazia o jantar, fui ouvindo o programa do Governo Sombra de 21 de Novembro, e alguma coisa havia naquelas batatas cozidas que me inspiraram muito (modéstia à parte) para lhes resolver o problema mais bicudo da noite: que fazer com políticos oportunistas cínicos e amorais populistas?
Nomeadamente: deve dar-se palco, ou fazer silêncio? Criticar de cada vez que passam uma linha vermelha é fazer o jogo dele: sempre que quiser aparecer em público, diz uma enormidade qualquer contra ciganos, pobres, não-brancos ou estrangeiros, e todo o país fala dele. Mas deixar passar em silêncio também não é solução, porque quem cala consente.
A solução é muito simples. Lembram-se da história da família que gostava muito de contar anedotas, e para poupar tempo numerou-as todas?
(Para quem não conhece: quando estavam à mesa, desatavam a largar números
- 17!
- hahaha, hohoho
- E a 31?
- hihihihi, muito boa!
Etc.
Até que às tantas, o filho mais novo diz com um ar matreiro:
- 14...
E leva logo uma palmada do pai:
- Essa não se conta à mesa!)
No caso dessa espécie oportunista de políticos, é numerar os truques da estratégia populista para conquistar o poder
(1: criar a ideia de que "isto" - economia, valores, identidade nacional - está tudo muito mal, e cada vez pior; 2: sugerir que "eles" - uns poderosos obscuros - estão em rota de colisão com os interesses do povo;
3: identificar inimigos externos que servem como bodes expiatórios - os ciganos, os refugiados, os negros, etc.;
4: vender a imagem de um líder carismático impoluto e providencial, que "nos" vai salvar "disto" e "deles";
5: dar ao povo a ilusão de que vai ter o poder de julgar, escolher e decidir;
etc.)
e depois, quando o político vier com uma dessas, basta aplicar o respectivo número, por exemplo:
"3, pffff, essa já tem barbas, funcionou muito bem para os nazis!"
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Dito isto, e só cá entre nós: nestes tempos de polarização e de discursos impetuosos e emocionais, é um prazer enorme ouvir o Pedro Mexia a discursar a partir de um sólido edifício de valores, leitura e reflexão inteligente. Por mim, podiam dar-lhe uma medalha no 10 de Junho, que era bem merecida.
(ai, espera...)
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