05 novembro 2020

enquanto esperamos


Numa situação normal, Biden não seria o "meu" candidato (entre aspas, porque não sou eleitora naquele país - no entanto, o que lá acontece tem efeitos na minha vida, tal como as eleições na Alemanha têm efeitos para os portugueses).

Mas esta não é uma situação normal. Neste momento, os EUA escolhem entre a retoma de um caminho democrático - com todas as imperfeições do sistema, que são muitas - e o sequestro da democracia por uma estratégia de poder com elementos de cunho fascista.

Mesmo não sendo o candidato que eu escolheria, é refrescante ouvir este discurso de Biden: as palavras de reconciliação de todos os norte-americanos, e o tom em que o faz.

O Biden pode ser "farinha do mesmo saco" no sistema político norte-americano. Mas é farinha à moda antiga: da que não legitima milícias de supremacistas brancos, nem cunha a expressão "o vírus chinês" para afastar responsabilidades da sua própria governação, da que não recorre a mobs armados para sabotar as contagens dos votos - por exemplo.

Farinha daquele saco que aposta na negociação bilateral nacional e internacional, que reconhece a importância do acordo de Paris e o acordo de não-proliferação nuclear, que assume o papel dos EUA como esteio de organizações como a ONU e a OMS.

Um pequeníssimo detalhe sem importância nenhuma, passem os pleonasmos: se ganhar - quer dizer, se conseguir escapar às rasteiras do Trump -, tenho a certeza que não vai comparar a dimensão do público da sua Inauguration com o do Obama.

Mas ainda não chegamos a Janeiro. Ainda estamos no tempo do "the most greatest President of all times":

E, mesmo que ele se vá, vai deixar por aí muita farinha estragada:



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