13 novembro 2020

Berlinale 2021

"Documentário "Havarie", de Philip Scheffner


Esta semana anunciaram que - contra ventos e marés e sobretudo covids - a Berlinale se vai realizar de 11 a 21 de Fevereiro de 2021. Estão a acompanhar atentamente a evolução da pandemia, e a trabalhar com afinco na definição de uma estratégia de segurança sanitária. Nesta altura em que ainda estou a digerir a frustração de não poder festejar o Natal como era costume, e em que muitas regiões alemãs fazem o luto do seu Carnaval 2021, a notícia da realização da Berlinale em Fevereiro é uma surpresa enorme. Mas louvo os esforços da organização de lutar contra a corrente, de procurar soluções para responder à pandemia e - last but not least - de nos sacudir para arrancar à letargia onde nos vamos instalando.

--- Esta manhã o facebook recordou-me o que escrevi em tempos mais despreocupados, quando soube que o documentário Havarie tinha ganho um prémio em Duisburg:

Caramba, eu até quando me engano acerto...

Fui ver este filme na Berlinale, porque a descrição me despertara a curiosidade: "37º 28.6´N 0º3.8´E. An inflatable dinghy full of people, one of them waving. The camera pans slowly to the right and shows tourists on a cruise ship looking out to sea. The camera moves back, touches upon the boat again and then pans to the left, to the other side of the ship. The refracted sunlight bathes it in colour and a vertical ray of light separates the ship from the boat, to which the camera now returns. At times the image blurs; ghostly reflections appear in the water.
The following is heard at the same time: the rescue crew requesting via radio that one should wait until a helicopter arrives. A woman talking on the phone in France to her husband in Algeria. Later he speaks of a crossing. The Irish tourist holding the camera, ship employees, Russian and Ukrainian cargo workers talking of encounters with this refugee boat (or another). And of their world.
During the work on this film, images overtook reality. Havarie responds to this by condensing sound and disassociating it from the image to create a space of perception that allows the viewer to experience their own position without ever losing sight of the subject at hand: a cinematic coup of true radicalism."

O resultado: imagens frame a frame daquele barco suspenso no mar (o filme de dois ou três minutos é passado tão devagar que dura 93 minutos); as vozes das pessoas no barco grande a falar daqueles desgraçados e mais do que calha; eu na fila da frente, sem poder escapar discretamente, a ceder a um sono invencível.

Já me tinha acontecido com o "Exotica, Erotica, Etc.", que também ganhou uns bons prémios. Mas nesse tive mesmo pena de ter adormecido - volta e meia abria um olho, pensava "eh, pá, isto é mesmo bom!", e adormecia outra vez.

Se tivesse jeito para o empreendedorismo, abria uma empresa de prestação de serviços: se me pagarem para ir dormir no filme deles, têm prémio garantido.

(Também podiam inventar dias de 32 horas durante a Berlinale: 24 para ir à bilheteira, aos filmes, às festas e ao European Film Market, e 8 horas extra para dormir)


Sem comentários: