10 outubro 2020

não deixes para amanhã o que podes fazer bem hoje

Ontem à tarde, a regressar a casa de bicicleta, o Joachim entrou numa curva bem encostado ao lado direito, e deu de caras com um casal de ciclistas que vinham lado a lado a cortar a curva - aquelas coisas parvas de achar que "vamos com bom ritmo e aqui de qualquer modo nunca passa ninguém..." Surpreendidos, os outros ciclistas hesitaram na manobra para se desviarem. De modo que o Joachim, que já ia bem rente ao passeio, para evitar chocar de frente travou a fundo - e aterrou com a cabeça no chão e a bicicleta por cima dele. Dois minutos depois já estava a ser tratado por uma médica que vive naquela rua, e um vizinho foi imediatamente chamar, a seguir veio a ambulância, e a seguir cheguei eu. Estivemos no hospital até depois da meia-noite, enquanto lhe faziam todos os exames necessários, e um médico lhe cosia as feridas e lhe arranjava os dentes durante quase duas horas.

Tem a cara num estado lastimoso, mas felizmente parece que não tem mais nada de grave. O capacete está todo partido, e agora não sabemos se o deitemos fora, ou se lhe façamos cá em casa um altar com uma velinha sempre a arder.

Mais uma vez se comprova: nada nos está garantido, cada dia é uma dádiva. Ou, como dizia o Joachim esta manhã: "a vida pode mudar radicalmente em qualquer momento - e por isso não devemos adiar a felicidade".

Nem a dignidade, acrescento eu, a pensar numa frase que li algures: "imagina que escrevias esse comentário parvo na internet, a seguir tinhas um ataque cardíaco, e aquela frase era o último sinal que deixavas de ti".

Bem sei que viver cada momento como se fosse o último tornaria a nossa vida insuportável. Mas podemos pensar em termos de herança: que sinais de mim quero deixar hoje ao mundo?

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Ontem, depois de a ambulância largar para o hospital, ainda fiquei com aquele casal à espera da polícia. Eles eram simpáticos, e estavam a fazer tudo muito certinho como manda a decência. Mas quando veio a polícia, e lhes disse que por enquanto eram testemunhas mas, dependendo do testemunho da outra parte, podiam tornar-se acusados, desataram a mentir. Que o Joachim vinha a uma velocidade desaustinada (sim, sim: tinha acabado de virar num cruzamento, e trazia um saco de mais de 10 kg às costas, de certeza que vinha a 100 à hora...) e que eles vinham bem encostados ao seu lado direito (pois, pois: tão dentro da legalidade, que uma pessoa se pergunta se terá sido a nossa senhora de Fátima que apareceu de repente à frente do Joachim e o obrigou a travar a fundo).

Espero que não tenham morrido esta noite. Era um triste sinal que deixavam deles ao mundo: mentir com todo aquele desplante, para mais no momento em que o Joachim estava a caminho do hospital sem se saber se tinha problemas graves.


7 comentários:

redonda disse...

Se for preciso espero que haja testemunhas para que se prove a verdade ou que o casal caia em si

Helena Araújo disse...

Talvez consigamos arranjar uma testemunha. Mas a verdade é que é muito difícil de explicar porque é que o Joachim travou a fundo se os outros vinham do lado deles como deve ser. Aquela versão tresanda a mentira.

CCF disse...

Coragem, esse seu rapaz é uma pessoa tão bonita, estou a torcer por ele.
~CC~

Maria João disse...

Espero que esteja tudo a correr bem convosco e que o casalinho virtuoso possa ser desmentido por uma testemunha. Mesmo que os danos corporais não sejam graves, a falta de carácter é uma coisa difícil de lidar com...

APG disse...

Vou trntar não me esquecer de algumas reflexões que li. Nao adiar a felicidade e a dignidade. Um esforço diário que, em segundos, podemos esquecer e esquecemos mesmo. Um equilíbrio no arme destes tempos vertiginosos.
Importante agora é a rápida recuperação, um beijinho!

Lucy disse...

que coisa! Que termine bem para todos e especialmente que o casalinho que caia em si

Helena Araújo disse...

Obrigada pelo apoio. :)