08 julho 2020

"imitação"

0. Para não escrever muitos disparates fui investigar a diferença entre #imitação e falsificação, e de extra deram-me também os conceitos de cópia, contrafacção e pirataria.

(Aqui)

1. Os três irmãos Posin, russos que moram em Berlim, são conhecidos como os melhores falsificadores do mundo. Mas não são falsificadores – fazem (geralmente por encomenda) excelentes cópias de quadros famosos cujos autores morreram há mais de 70 anos, e assinam o seu próprio nome por trás da tela. Falsificação ou cópia?

Penso que, no caso, se trata de imitação, já que no processo da pintura eles tentam entrar na pele do artista, servindo-se do muito que aprenderam na Academia das Artes de São Petersburgo sobre os pintores e a respectiva época. Um deles chegou a aprender a pintar com a mão esquerda para imitar um artista canhoto. Nas palavras de um deles: “cada uma das nossas cópias tem de ter uma alma. Não copiamos simplesmente a superfície e as cores. Queremos entrar no artista e trabalhamos ao mesmo ritmo que ele. Por isso, vemos nas nossas pinturas uma obra que nasceu de novo.”

O resultado (cópia? imitação?) é tão bom que já têm um museu com cerca de cem quadros em Großräschen, Brandeburgo. O dono do museu, grande apreciador dos irmãos Posin, detecta-lhes a “alma russa” nas dobras das pinceladas. Mas diz-se que mesmo os profissionais têm alguma dificuldade em distinguir certas cópias do respectivo original.

Em todo o caso: a fama é tanta que o museu chega a receber visitantes vindos de Dresden que estão interessados em comparar a Madonna Sistina dos Posin com a “sua”, a original de Rafael, que está na Galeria dos Mestres Antigos da Pintura.

(Agora estou aqui a pensar: em 2032 fará setenta anos sobre a morte do Yves Klein. O seu Azul dava um belo presente para o meu próprio 70º aniversário. Será que posso encomendar uma imitação, ou aquela história da patente é mesmo a sério? Estava capaz de trocar todos os quadros que tenho em casa pelo Azul do Yves Klein interpretado pelos Posin. E vocês?)

(Oooops! Joachim, aquele “estava capaz de trocar todos os quadros” é uma maneira de dizer, OK? Tu não me faças uma leitura literal do que aqui escrevo, que não me dava jeito nenhum passar o resto da vida a dormir no sofá.)

Neste link encontram um filme curto sobre os artistas imitadores.


2. Há tempos comprámos dois quadros que andaram no mercado da arte como originais, e afinal eram falsificações. Gosto dos quadros, que me lembram Kirchner, e gosto ainda mais do suplemento de rocambolesco: não é qualquer um que consegue entrar no mundo de um determinado artista a ponto de fazer quadros inéditos que passam por originais. Infelizmente não me consigo lembrar do nome do falsificador e do nome da artista que ele imitou. Um dia que volte a Berlim, e a palavra do dia seja Alzheimer, conto-vos o resto da história.

Na mesma altura hesitei em comprar um conjunto de peças de óleo e colagens que lembravam imenso os trabalhos do Amadeo de Souza-Cardoso. Hesitei, é como quem diz: h€$it€i... Quando ganhei corag€m e lá voltei, um mês mais tarde, já só encontrei o lugar vazio na parede.

Fiquei com pena: o que me interessava não era o nome, mas a beleza da composição – mesmo que tomada de empréstimo a um génio alheio.


3. Digam vocês: uma imitação bem conseguida já vos fazia felizes, ou só vos serve o original?

(Será que os Posin nos faziam preço de grossista se encomendássemos vários Azuis do Yves Klein? Ou seria melhor encomendar essas imitações na China?)

(Ai! Com licencinha: vou ler de novo a definição de “pirataria”.)

(E a de “palermice”, já agora.)



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