09 maio 2020

"Ypres"


Otto Dix, Abensonne (Ypern) [Evening Sun (Ypres)], 1918


Ontem andei o dia todo a pensar que ainda havia alguma coisa para dizer sobre #Ypres. Sabia que vários artistas alemães passaram pelos horrores dessa guerra, sabia que havia pinturas inspiradas nos campos de batalha do centro da Europa, mas não conseguia lembrar-me de um em particular.

Até que me lembrei de Otto Dix, do seu extraordinário tríptico sobre a guerra, que está na Galerie Neue Meister, em Dresden,e do quadro "A Trincheira", que desapareceu no turbilhão nazi (pode ver-se aqui uma fotografia dessa obra, a preto e branco).

Otto Dix que se alistou voluntariamente no exército da primeira guerra mundial, e que numa carta a um amigo escrevia sobre "a sensação de espetar a baioneta no ventre de um homem". Otto Dix, que no fim da primeira guerra mundial pintou este "Sol do Entardecer (Ypres)".

Hoje, quando se festeja o #dia_da_libertação, traduzo uma parte da wikipedia em alemão sobre a perseguição de que este pintor foi vítima. Há elementos do discurso da época que infelizmente recomeçamos a ouvir hoje em dia em certos países - e até no Parlamento português. O dia 8 de Maio de 1945 não trouxe a libertação de um regime desumano para todo o sempre. Temos de estar atentos aos sinais dos tempos, e evitar atempadamente que a História comece a enveredar por trincheiras antigas.

Da wikipedia:

"Em 1933, Otto Dix foi um dos primeiros artistas a perder o seu trabalho como docente e a ser excluído da Academia. Bettina Feistel-Rohmeder, nazi, artista e crítica de arte, difamou-o afirmando que troçava dos heróis. Já em 1933 foi realizada no pátio da Câmara de Dresden uma "exposição da vergonha". Organizada por Richard Müller, viria a ser a precursora da exposição itinerante "Arte Degenerada". Entre as obras de Dix encontrava-se também "A Trincheira", proveniente do Museu de Dresden. Além de Goebbels e Göring, também Hitler visitou esta exposição, e comentou sobre Dix: "É pena não poder prender esta gente". Na brochura da exposição sobre a "arte degenerada", o quadro "A Trincheira" aparecia com o título: "Sabotagem da defesa em forma de pintura do artista Otto Dix". Um excerto do texto da brochura: "Aqui a "arte" entra ao serviço da propaganda marxista a favor da objecção de consciência. A intenção é clara: o espectador deve ver no soldado o assassino ou a vítima insensata de uma "ordem mundial capitalista", no sentido da luta de classes bolchevique. […] O facto de não apenas os judeus, mas também os "artistas" de sangue alemão criarem sem que ninguém lhes tivesse pedido obras de arte vis que reafirmam a posteriori a propaganda do inimigo sobre os horrores da guerra, e que já na altura foi desmascarada como sendo uma teia de mentiras, permanecerá para sempre uma mancha na história cultural alemã."


1 comentário:

" R y k @ r d o " disse...

Bom dia:- A pintura é magistral. Com estas acusações sobre o "nascer" do covid-19 feitas à China - a serem justas ou não - oxalá não traga graves dissabores ao mundo. Outra guerra mundial, NÂO por favor
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Um Sábado feliz
Cumprimentos