10 maio 2020

o grão de areia na engrenagem

Esta manhã fomos passear pela extraordinária rua de St. Malo, que fica a poucos metros da nossa casa, e depois seguimos por um bairro próximo do nosso, gozando até ao fim o quilómetro que nos é concedido. Às tantas, a senhora que ia vários metros à nossa frente virou-se para trás e disse: "desculpem, mas estou a ouvir falar português - de onde são?"

E assim começou a conversa. Ela pediu de novo desculpa, mas "quando ouvimos falar português, uma pessoa até sente um calor diferente no coração, sentimo-nos quase como se estivéssemos em Portugal".

Daí a nada já estávamos a combinar que da próxima vez que o tamboril estiver com bom preço no Carrefour mas for demasiado grande eu lhe compro metade do bicho, e fazemos o arrozinho cada uma na sua casa. Também me disse onde é a loja de produtos portugueses de Brest, e contou-me as novidades mais recentes de Portugal: o pai que violou a filha de 14 anos no próprio dia da mãe. "Se eu apanhasse o meu marido em cima da minha filha, espetava-lhe uma faca nas costas! Então o homem não tinha mulher?!"

Portanto: esta manhã fui a Portugal num instantinho. Depois voltei para o apartamento francês, onde daí a pouco começou uma  videoconferência com os miúdos: surpresa deles para o dia da mãe, que na Alemanha é hoje.

Em menos de uma hora estive em Portugal, na França, na Alemanha - e senti-me muito bem em todos esses países. Sou o grão de areia na engrenagem dos nacionalismos.
E não estou sozinha - há cada vez mais europeus que se sentem em casa em vários países diferentes. Venham eles: milhões de grãos de areia, uma duna sem fim para fazer titubear o passo aos nacionalismos.


PS. Caso estejam a morrer de saudades do Fox, ó aqui, fresquinho a sair do Whatsapp:



4 comentários:

Lucy disse...

ele está cada vez mais querido!

" R y k @ r d o " disse...

"" ... apanhasse o meu marido em cima da minha filha, espetava-lhe uma faca nas costas! Então o homem não tinha mulher?!"""

E se estivesse por baixo não merecia na mesma um correctivo exemplar? ( estou a brincar...)

Numa certa cidade do sul de Paris, onde andei, também me aconteceu quase igual. Ia a correr e há minha frente ia um casal a falar português. Meti-me com eles e foi amizade à primeira vista. Foi há cerca de 10 anos e ainda hoje falamos via Skype ou telefone

Tenho um resto de domingo feliz

jj.amarante disse...

Parece um paxá, em cima de tanta almofada.

Lúcio Ferro disse...

Que giro, a minha cadela também se chama Fox e também tem uma risquinha branca na testa. Bom internacionalismo.