09 abril 2020

"Dietrich Bonhoeffer" (2. biografia breve)

Traduzo um texto de Michael Grau, jornalista da EPD (Evangelischer Pressedienst), escrito por ocasião do centenário de #Bonhoeffer:

A sua estátua esculpida em pedra ergue-se sobre o pórtico principal da Abadia de Westminster, em Londres: entre os dez mártires do século XX aqui imortalizados, o único alemão é o teólogo e combatente da Resistência Dietrich Bonhoeffer (1906-1945), assassinado pelos nazis. "Um exemplo para todos nós", foi o que lhe chamou o embaixador alemão em Londres. (...) Bonhoeffer nasceu em Breslau há 100 anos, no dia 4 de Fevereiro de 1906.

Morreu com apenas 39 anos de idade. Contudo, foi um dos teólogos evangélicos do século XX que mais profundamente influenciou a sua Igreja e a sociedade. Ruas e escolas, igrejas e centros comunitários têm o seu nome. Um filme conta a sua história. O seu protesto vigoroso contra os nazis, o seu papel activo na resistência contra Hitler, os seus livros e a sua morte como mártir são conhecidos mundialmente. O Presidente do Conselho da Igreja Evangélica na Alemanha (EKD), o Bispo Wolfgang Huber, chama-lhe um modelo de fé e, neste sentido, um "santo protestante". 

Bonhoeffer era filho de um professor de Psiquiatria e cresceu com sete irmãos num bairro ocidental de Berlim. O seu percurso académico foi invulgarmente rápido: (...) aos 25 anos já era professor universitário. O seu aluno Wolf-Dieter Zimmermann, agora com 94 anos, lembra o seu carácter intelectual: "Expressava-se de uma forma clara e precisa. O seu contexto da alta burguesia marcou-o profundamente: "Só se permitia a familiaridade do tratamento por tu com pouquíssimas pessoas".

O teólogo tinha uma aparência forte e enérgica: "No ténis de mesa, ganhava-nos a todos". Quando estava tenso, fumava muitos cigarros. Durante uma estadia académica em Nova Iorque foi testemunha directa da segregação racial, quando um amigo negro se viu obrigado a ir numa carruagem de eléctrico diferente da dele. No início da década de 1930, movido pelo “sermão da montanha”, que o tocou muito, adopta ideias pacifistas.

Vê nos nazis um perigo para a Alemanha. Dois dias após a tomada de poder por Hitler, em 1933, discursa na rádio avisando que o "Führer" se pode tornar um "Verführer".
[ NT: Ah, a beleza da língua alemã! O prefixo „ver“ normalmente gera a ideia contrária da palavra central - rechnen/verrechnen é calcular/enganar-se nos cálculos; laufen/verlaufen é caminhar/perder-se no caminho. Como o „des“ português ou o „mis“ inglês. No caso, o trocadilho seria algo como “leading” e “misleading”. Mas a língua alemã faz mais que isso: Führer é o líder, o guia; Verführer - ver-Führer - também é o “sedutor”, ou aquele que alicia outros para fazerem algo. Mas não divagarei mais sobre esta curiosidade de o contrário de um líder ser um sedutor. ]
Em Abril de 1933, perante o início da perseguição aos judeus, afirma “Quando um bêbado vai ao volante, não basta pôr ligaduras à vítima sob as suas rodas, é preciso agarrar a própria roda". Mas naquela altura a sua opinião encontrou pouco eco.

Desgastado pelos conflitos na Alemanha, Bonhoeffer foi para Londres trabalhar como pastor no estrangeiro. Em 1935 regressou e assumiu um seminário de pregadores da "Igreja Confessional" na Pomerânia. O seu cunhado Hans von Dohnanyi (pai do que muitos anos mais tarde viria a ser presidente da câmara de Hamburgo, Klaus von Dohnanyi) informa-o sobre os planos de guerra de Hitler em 1938 e também sobre os planos para um golpe de Estado, que viria a acontecer em 20 de Julho de 1944.

Em 1939, Bonhoeffer dá algumas palestras nos EUA, país no qual os seus amigos tentam arranjar-lhe um cargo de professor. Mas em breve ele decide regressar à Alemanha: "Tenho que viver este período difícil da nossa história com os cristãos na Alemanha".

Para Bonhoeffer começa agora uma vida dupla plena de riscos: em 1940 deixa-se recrutar pelo serviço secreto militar alemão, onde o seu cunhado e outros trabalham secretamente para a Resistência. Oficialmente, é agora um agente da contra-espionagem. Na verdade, porém, informa pessoas de confiança nas Igrejas estrangeiras sobre os planos de golpe de Estado contra Hitler.

No início de 1943, em pleno caos da guerra, Bonhoeffer torna-se noivo de Maria von Wedemeyer, de 18 anos de idade. É detido pouco depois, a 5 de Abril. A sua noiva só o pode visitar na prisão com grandes intervalos. Na sua cela em Berlim-Tegel Bonhoeffer escreve à família e a um amigo as cartas que mais tarde se tornarão famosas sob o título "Resistência e Submissão".

O fracasso da tentativa de assassinato de Hitler, a 20 de Julho de 1944, revela toda a extensão da conspiração em que Bonhoeffer, o seu irmão Klaus e o seu cunhado von Dohnanyi estão envolvidos. Em Abril de 1945, com as tropas aliadas já a aproximarem-se, os nazis levam o pastor para o campo de concentração de Flossenbürg, perto de Regensburg. Em 9 de Abril de 1945, um tribunal sumário pronunciou uma sentença: morte por alta traição. Bonhoeffer faz uma pequena oração. Em seguida, despe-se e sobe para a forca. O médico do campo de concentração escreveu mais tarde: "Nunca vi um homem morrer em atitude tão piedosa".


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