As notícias de Berlim que mais me interessam são estas: a Christina e o Matthias (e o Fox) estão a viver de novo na nossa casa. Sinto-me muito aliviada por sabê-los donos de si próprios, sem terem de sofrer as consequências das escolhas de vida social que os respectivos colegas de apartamento fazem.
O Fox anda feliz da vida: como a única coisa que podem fazer, além de ficar em casa, é ir dar longos passeios nos lagos e na floresta, ele farta-se de passear.
Outra notícias interessantes: a newsletter "Weekend in Berlin" passou a ser "Weekend@home" e informa sobre actividades culturais que as pessoas podem acompanhar sem sair de casa.
(A vida mais inacreditável que os filmes: como teria podido imaginar, quando resisti tanto a vir morar uns meses em Brest por causa de tuuuuuuuudo o que ia perder em Berlim, que duas semanas depois da minha partida as salas de cultura iam fechar todas?)
Caso haja ainda dois ou três distraídos que não se tenham dado conta disso: o Digital Concert Hall por estes dias tem as portas escancaradas para quem quiser passear pelo seu arquivo. O voucher é válido por um mês, e tem de ser activado até ao dia 31 de Março.
Para entrar: seguir este link, introduzir a senha BERLINPHIL, e fazer o login ou eventualmente o registo. Daí para a frente, é só saborear.
Podem assistir, por exemplo, a:
- 3ª de Mahler com o maestro da Orquestra da Gulbenkian, Lorenzo Viotti, na sua recente estreia com os Filarmónicos de Berlim, e a mezzo-soprano Elīna Garanča.
- Maria João Pires e o maestro Herbert Blombstedt (não digo o programa porque não interessa - em sendo a Maria João Pires, até "todos os patinhos" seria memorável)
- Um concerto de que me falaram muito bem: com o maestro Paavo Järvi, e uma peça escrita para o trompista Stephan Dohr.
- Outro excelente: o concerto para violino e orquestra de Sibelius com a Lisa Batiashvili e o maestro Paavo Järvi.
- Um concerto de fim de ano muito animado pela Diana Damrau. Aliás: todos os concertos de fim de ano têm programas mais "acessíveis" e variados. Gostei especialmente do de música russa, do de música americana do século XX (OK, vou confessar tudo: assisti ao ensaio geral, e deliciei-me com a alegria contagiante de Thomas Quasthoff, que tem feito uma excelente carreira de barítono apesar de ter nascido com graves malformações devido à Talidomida. Durante o ensaio brincou tanto com a soprano Pauline Malefane que levaram ambos um raspanete do maestro), dos concerto com o Menahem Pressler, com a Joyce DiDonato, com o Daniil Trifonov.
- Por falar em Daniiel Trifonov: o melhor é ver logo todos os seus concertos, pronto. E que venham mais!
- Uma homenagem a Leonard Bernstein, com Simon Rattle e o pianista Krystian Zimerman. Gostei muito das peças e do ambiente desse concerto. Mas talvez a primeira peça, The Age of Anxiety, não seja muito recomendável para estes tempos. Já basta o que basta.
Também podem espreitar todos os concertos de fim da época na Waldbühne (geralmente acompanhadas por autênticos dilúvios, em particular o de 2018, no qual não choveu mas teve na mesma muita humidade porque foi a despedida de Simon Rattle da orquestra - vejam a última música, e digam lá se isto não é de chorar baba e ranho) (caso achem que não: pfffff...).
Um desses, com música de filmes, teve momentos extremamente divertidos na peça do Tom & Jerry. Que por sinal também foi tocada no concerto de homenagem a Bernstein - e onde os mais cuscos me podem ver em grande plano por trás dos músicos que faziam os efeitos especiais (ahem... do lado esquerdo, com um vestido preto sem mangas) a rir como uma maluquinha no sexto minuto, especialmente na parte em que o Joaquín Riquelme começa a ladrar. Deve haver dezenas de concertos no arquivo onde eu apareço por trás da orquestra, porque é onde fico quase sempre. Num deles até estou a - glup! - tirar uma fotografia durante os aplausos. Maldita era digital: quando tudo o que a gente faz fica registado e disponível perante o mundo inteiro para sempre...
Podem ver o concerto inaugural do Abbado, e o último que deu com aquela orquestra (no qual quase gostei tanto do aplauso do público como do concerto propriamente dito - foi um dos momentos inesquecíveis que me aconteceram naquela sala).
Também podem ver o concerto inaugural de Simon Rattle (5ª de Mahler) e o final (6ª de Mahler). Esta última foi escolhida por Kiril Petrenko para um dos seus primeiros concertos como director da orquestra.
E agora vou repetir o que provavelmente já todos sabem de cor, porque passo a vida a dizer o mesmo: absolutamente imperdíveis, na minha opinião, são as Paixões de Bach com encenação de Peter Sellars (procurem aqui), o concerto e o filme dos Violins of Hope, o ciclo Sibelius do Simon Rattle em 2015 (estão por aqui), e também em 2015 o ciclo Beethoven do Simon Rattle (aqui, entre outras peças de Beethoven).
Não vou dizer nada sobre os filmes, excepto um detalhe sobre um deles, o Rythm is It, que me impressionou muito: quando uma das participantes disse que esta tinha sido a primeira vez que tinha estado em contacto com alunos do ramo de ensino secundário que dá acesso à universidade, e que tinha aprendido muito com eles. Até ouvir essa frase não me tinha dado conta da situação de autênticos guetos de classes criada pelo sistema educativo alemão, que separa os alunos logo ao fim da escola primária.
Para terminar, o Elfenlied do Hugo Wolf, com a Camilla Tilling, que era capaz de ficar a ouvir em repeat sei lá quanto tempo, e nem sei explicar porquê: aqui, a segunda canção da primeira peça.
Ora então: enjoy!
(E fiquem em casa)
1 comentário:
e muito agradeço...
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