Tenho passado grande parte dos dias no quartinho da residência de estudantes onde nos alojámos na primeira metade deste Março, dividindo o tempo entre trabalhos vários e a procura de apartamento para nos instalarmos até Setembro. Sem pessoas nem TV nem rádio que me liguem ao país onde agora vivo, a minha bolha
está mais estanque que nunca.
Hoje descobri que em Portugal se preparam para fechar as escolas por causa da coronavírus. E ontem a Christina contou-me que em Berlim está tudo maluco. Por exemplo: quando ela contou no nosso coro que tem o quarto cheio de sacos de comida que eu lhe mandei da nossa despensa, porque se ia estragar durante a minha ausência, a resposta foi: aproveita, podes vender no mercado negro!
(Mercado negro de comida em Berlim?! Espero que fosse apenas brincadeira.)
Suspensa como estou entre Portugal e a Alemanha, mal me dei conta de que
estou a viver num país com mais de 1.700 infectados e com 33 vítimas
mortais da coronavírus. A falta de notícias alarmadas deixa-me com uma certa sensação de segurança. É verdade que há uma aldeia bretã em quarentena
(soube porque um dos oradores do encontro ao qual o Joachim foi no
fim-de-semana passado é morador dessa aldeia e por isso não pôde ir) e proibiram tudo o que for aglomeração de mais de mil pessoas. Mas fui ao teatro no domingo e ao cinema na segunda-feira, e também
passei uma tarde em visita de estudo na IKEA, sempre muito descansada da vida.
Parece que no hospital de Brest as pessoas passaram a cumprimentar-se com um toque de cotovelos.
Sei disso, mas esqueço-o sempre que cumprimento as pessoas que me mostram as casas para alugar. Dou-lhes um aperto de mão automático, e elas retribuem sem hesitar.
As notícias de Portugal que li hoje inquietaram-me, e pensei nos sete infectados que há nesta região. Se fecham escolas em Portugal, talvez fosse boa ideia eu ficar quietinha em casa, em vez de ir tranquilamente às lojas de móveis que me apetecia estudar hoje.
Pior ainda, esta pergunta: o teimoso pingo no nariz que me acompanha há vários dias, a leve sensação de cabeça congestionada - é uma constipação levíssima ou deve ser motivo para ir ao hospital fazer o teste?
A resposta depende da bolha em que me movo. Em que escolho mover-me.
(Nunca mais me rio do pessoal que acredita que a terra é plana...)
1 comentário:
Helena, por cá, e nessas situações, por muito leves que sejam, aconselham o contacto imediato com o SN24 que faz a triagem antes de se dirigir a um hospital.
808 24 24 24. Não sei se onde se encontra terá acesso a este número.
Sem dramas e medos, mas não se descuide.
Beijinho
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