21 janeiro 2020

vida boa



Hoje esteve um dia glorioso em Berlim. Fui à Filarmonia comprar bilhetes para o concerto da sexta-feira, e não consegui impedir-me de tirar as fotografias possíveis dentro do S-Bahn e do autocarro. Clic-clac, clic-clac, clic-clac - um dia destes ainda arranjo sarilhos com os outros passageiros, por causa da barulheira que faço a tirar fotografias (escusam de tentar ensinar-me como se faz para silenciar o telemóvel: tem esse botão avariado - mas obrigada na mesma).

A fila estava enorme - o dobro da semana passada. Comecei a conversar com o senhor atrás de mim, que também estava surpreendido com tanto público. Revelou-me que na semana anterior tinha conseguido comprar bilhetes para o Blomstedt um dia antes do concerto. "Suspeito que as pessoas não saibam o prodígio que é ouvir o Blomstedt", acrescentou. E daí a nada estava a falar da veneração que os músicos da orquestra têm por este maestro de 93 anos, e de como isso se nota na música que fazem com ele. Elogiou a sua agilidade apesar da artrose avançada, "está melhor que o Karajan". Confirmou o que já digo há anos: os lugares por trás da orquestra são os melhores. E no caso do Petrenko, mais ainda: "o Petrenko é tão expressivo que quase nem era preciso a orquestra tocar - a música já está toda estampada no maestro", disse ele. Revisitámos a 4ª de Bruckner da semana passada, as expressões de felicidade no rosto do Blomstedt nas passagens especialmente bem conseguidas, o solo de trompa do Stefan Dohr a abrir a sinfonia como se fosse fácil, "imagine que aquilo corria mal - lá se estragava a sinfonia toda!", os músicos que eu vi a chorar no fim do concerto. Trocámos cromos sobre os nossos melhores concertos naquela casa (mas ele ganhou: era amigo do primeiro violino no tempo do Karajan, ia a todos os concertos que queria). E recomendou-me muito ouvir as introduções aos concertos quando são feitas pelo Götz Teutsch, que já foi o primeiro violoncelo da orquestra, e fala das peças com intimidade e prazer de amante. 

Finalmente chegou a nossa vez, e consegui os bilhetes que queria. Esperei para ver se ele também teria sorte (teve) e à despedida ele comentou: "às vezes é uma sorte haver filas compridas na Filarmonia. Esta hora a conversar consigo passou num instante. Muito obrigado!"

Então é assim: esta cidade tem mais de 3,5 milhões de habitantes, e não sei como, mas arranjo de passar a vida a cruzar caminhos com os mais simpáticos deles todos. 






  

1 comentário:

jj.amarante disse...

Gostei do prédio ondulado.
Já conheço algumas perspectivas de Berlim, a sua que inclui a Filarmónica com a Potsdamer Platz e o edifício sede da Deutsche Bahn (nome conhecido de quem tem mesmo um pequeno combóio eléctrico) ao fundo foi tirada em 52º30'31.53"N 13º22'4.62"E, como constatei no Google Street View.
Alugou uma scooter eléctrica vermelha emmy?