Um dos melhores livros que li em 2019 foi La Légèreté, de Catherine Meurisse.
É um livro autobiográfico de banda desenhada, no qual a autora conta como viveu aquele fatídico 7 de Janeiro de 2015 (em que por acaso chegou atrasada ao escritório, um atraso que lhe salvou a vida), e o difícil processo de recuperação do choque após o massacre. É um livro belíssimo, e muito rico de todos os pontos de vista.
A frase de Nietzsche em epígrafe, "Temos a arte para não sermos destruídos pela verdade", é a melhor síntese para o seu processo de superação da dor e de recuperação da capacidade de desenhar, percorrido numa relação profundamente íntima com a arte.
Como exemplo, deixo as três páginas iniciais (com péssima qualidade, mas vi-me obrigada a escolher entre fotografar o meu livro com texto alemão, ou copiar da internet este em francês; podem clicar sobre a imagem para ver com mais detalhe):
Por exemplo a frase do Martin Sonneborn, eurodeputado e antigo chefe da revista satírica alemã Titanic, referindo-se ao massacre do Charlie Hebdo, que ainda hoje me faz rir:
"Isto na Titanic nunca teria acontecido - só temos seis redactores".
Ou o desenho de Luz no primeiro número publicado depois do ataque:
E o de Riss, no número especial do primeiro aniversário:
Numa palavra: resiliência. Ou melhor: rirsiliência.
Recorremos à arte para não sermos destruídos pela verdade, e ao riso para não sermos destruídos pelo horror - ou pelo medo.
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