29 dezembro 2019

concerto de fim-de-ano dos filarmónicos de Berlim

 

Esta manhã tive a sorte de poder assistir ao ensaio geral para o concerto de fim-de-ano da orquestra filarmónica de Berlim. Para não me acusarem de vir cá fazer-vos sofrer de insularidade, aviso já que podem ver o concerto na ARTE no dia 31 de Dezembro às 17:35 (hora de Portugal), ou no próprio Digital Concert Hall em directo (às 16:00, hora de Portugal).

Por causa daquela conhecida má distribuição divina das nozes fui para o ensaio sem sequer ter visto antes o programa, e pelo caminho pus-me a imaginar que peças russas nos daria o Petrenko. Muito me enganei: levou-nos aos EUA de Gerschwin, de Bernstein e de um desterrado Kurt Weill.

Confesso - só cá para nós - que ao Americano em Paris com que começaram faltava algum dansabile. À excepção do Edicson Ruiz, que passou o tempo todo do lado de lá do Atlântico, em swing descarado e livre com o seu contrabaixo. Espero que no domingo a câmara lhe dê muitas honras de grande plano, para prazer dos telespectadores.

O Kirill Petrenko também deve ter sentido falta do tal dansabile, porque fez imensas correcções. Tantas, que comecei a temer que não acabassem o ensaio a tempo de fazerem o concerto desta noite. Mas não me queixo, porque foi um prazer enorme regressar a algumas das frases, e ver a orquestra a responder às indicações. O maestro também deve ter gostado muito, porque bem lhe ouvi o "wooooow!" maravilhado que lançou na direcção dos violinos.

Outro momento inesquecível foi o solo do Stefan Dohr (na trompa, com o tema "there must be somewhere") nas Danças Sinfónicas de Bernstein. Só por este solo já me teria valido a pena ter levantado tão cedo para atravessar meia cidade com temperaturas perto do zero. Mas houve ainda mais, muito mais. Houve, por exemplo, a descoberta dos ombros do Kirill Petrenko. Onde outros carregam o peso do mundo, este maestro carrega a sensualidade da música. Melhor dizendo: liberta-a. Se fizer isto com todas as músicas, vou ter de rever o meu hábito de escolher os lugares por trás da orquestra para ver o maestro de frente. Lembram-se daquela anedota parva da actriz que também era boa atrás? É este maestro: a música nos seus ombros.

E houve a Diana Damrau, que ouvi hoje pela primeira vez. Mesmo estando a poupar a voz para o concerto da noite, levou-nos a um estado de encantamento tal que por vezes não conseguimos impedir-nos de aplaudir, apesar de sabermos bem que não é desejado num ensaio.

Regressei a casa feliz, indiferente ao frio e saboreando quase embriagada a luz clara que desenhava todos os contornos com nitidez. Estou com vontade de voltar lá amanhã, e tentar o milagre de um bilhete vendido à porta. Diz que o Natal é tempo de milagres. Ou isso, ou esperar por terça-feira e assistir na Arte. Ou no Digital Concert Hall.


1 comentário:

chica disse...

Que lindo e emocionantes momentos! Aproveito pra desejar um lindo e feliz 2020! bjs, chica