30 outubro 2019

a caminho


 



Uma pessoa publica um post com imagens de uma bicicleta, põe-lhe o título "a caminho do correio", e no momento seguinte dá consigo a caminho do fim-de-semana do encontro anual da família, no país das bicicletas (na Holanda, lembro-me sempre do ar entusiasmado do Matthias há muitos anos, na nossa primeira viagem a Amesterdão: "as bicicletas têm sempre prioridade? Oh, mas isto é o país que me convém!").
De regresso a casa, descobre que tirou mais de 1000 fotografias. Um impossível, um milagre da multiplicação das imagens: como, se passou o tempo a conversar e a rir?




Começámos a fazer este encontro da família há quase um quarto de século. Nessa altura morávamos todos no sul da Alemanha, e o destino era a Borgonha. Em algum momento houve um interregno, e um recomeço em 2008. Em cada ano o encontro é preparado por um grupo diferente, e temos tido fins-de-semana lindíssimos - na Floresta Negra e na Holanda, na Alsácia ou em Berlim. Já descobrimos que o melhor é alugar uma casa com espaço para todos, numa região rural. As cidades dispersam-nos do mais importante: estarmos uns com os outros.

Este ano pôs-se a questão da abertura do grupo aos namorados da geração mais jovem. Eu disse logo que sim, claro, que são eles quem me vai empurrar a cadeira de rodas e pagar o lar de terceira idade. Mas havia familiares da minha geração que preferiam manter o grupo como ele está, sem abrir a "elementos de fora". Ainda não se deram conta de que esses novos elementos do grupo são aqueles que se tornarão progressivamente as pessoas mais importantes na vida dos nossos filhos, e nos empurrarão a nós, os pais, para uma posição de "elemento de fora".
Ou talvez por isso mesmo? Talvez seja um reflexo de alguns para preservar uma constelação que sentem estar ameaçada?

Quando o Matthias tinha meia dúzia de horas no nosso mundo, a Christina pegou nele ao colo, apontou para o Joachim e disse: este é o pai. Tinha dois anos e meio, e já então nos dava lições sobre a capacidade de se adaptar a situações novas e redesenhar constelações, assumindo-se ao leme do seu espaço e do seu destino.

Estamos todos a caminho, e nem vale a pena gastar energia com a ideia de "armar três tendas" e parar o tempo.



    
 
 
 


 
 




Secção Culinária: descobrimos o gosto das algas da salicórnia. Quase como ostras, só que em vegan. Delicioso.


Secção Foxxinho: odiou a viagem de carro. Na última etapa, sempre que o carro abrandava para uma rotunda, o Fox levantava-se ansioso, pensando que estávamos a chegar. Mas quando chegámos, foi uma festa: cavou a praia como se quisesse descobrir a passagem mais directa para a Austrália, cavou os diques como se quisesse sabotar o esforço dos holandeses acrescentarem a sua terra, encheu-se de caracoletas, encheu-se de areia, encheu-se de lama. Um cão feliz.





(não se esqueçam de reparar na folha estrategicamente colocada a tapar as partes,
para não incomodar o algorítmo)

2 comentários:

Catarina disse...

Benditas as folhas e os seus múltiplos usos!

Dá p'ra ver que foi um encontro muito divertido.

Helena Araújo disse...

Foi fantástico. :)