30 janeiro 2019

"órgão"

Pela manhã, antes de sair a palavra do dia, venho em grande pressa, ufa ufa ufa, falar-vos de um #órgão sobre o qual tenho aprendido muito nos últimos dias: a vesícula. À minha vesícula devo o grande favor de não me ter deixado engordar neste Natal (nem em vários dos anteriores, se bem me lembro). A vidinha até não ia mal de todo - se não fossem os médicos à minha volta, o aiaiai-tens-de-tirar-isso, e eu a argumentar com a inviolabilidade do meu corpo, e eles que ai-e-pode-acontecer-isto-e-aquilo, e eu a dizer que já vivemos juntas há tantos anos que me afeiçoei a ela, sei lá o que será a minha vida depois desta abrupta separação, coisas assim. Só cá para nós: o argumento da inviolabilidade do meu corpo, no caso concreto deste órgão, é treta. A verdade é que temo as restrições alimentares que me sejam impostas mal me apanhem sem a vesiculazinha, e por isso teimo em manter o status quo. 

Mas este Natal não foi fácil, e por isso na semana passada fui ao hospital, o chefe do serviço explicou-me tudo, e marcou a operação: último dia deste mês. Disse-me que muitas pessoas têm pedras na vesícula e normalmente isso não é problema, mas a partir do momento em que têm dores é melhor tirar, antes que saiam e se instalem onde não devem, ou que provoquem uma infecção ou até uma ruptura que obriguem a uma operação de urgência. Depois passou-me para um colega bem mais jovem, um assistente que me explicou como é que a laparascopia vai decorrer (vão-me encher o ventre de dióxido de carbono, vou parecer um Trabi!), referiu tudo o que pode correr mal e como é que esses problemas se resolvem, e respondeu ainda às minhas perguntas:
- Mas o meu corpo não precisa desse órgão?

- Não. A vesícula era necessária no tempo em que éramos caçadores e alternávamos períodos mais longos sem comer muito com grandes refeições cheias de gordura, quando abatíamos um animal. Aí, dava jeito ter uma reserva de "diluente de gordura". Mas hoje em dia, com a alimentação regular que fazemos, a vesícula tornou-se um órgão obsoleto no nosso organismo.
- Ah, bom. E o regime alimentar que terei de fazer depois da operação?
- Oh, não se preocupe com isso! Pode continuar a comer tudo, como comia antes.

Ora bem: este foi o primeiro médico a dizer-me que a ausência da vesícula não implica restrições alimentares. O meu primeiro impulso foi desconfiar. Mas depois reparei melhor na sua idade, e decidi que na nossa sociedade é importante dar uma chance aos mais jovens.

Portanto: amanhã cá vou eu: mudar alguma coisa, para que tudo fique na mesma.


2 comentários:

Paulo Topa disse...

Espero que tudo corra muito bem. Boa operação e boa recuperação.

Lucy disse...

Que corra tudo muito bem e arranjes muita inspiração para novos textos!!