18 julho 2018

"Nelson Mandela"

Hoje a Enciclopédia Ilustrada tem um especial "Nelson Mandela" - et pour cause.

Partilho o contributo do Lutz Brückelmann:



Hoje temos #Nelson_Mandela unanimamente por uma das maiores figuras do século XX, um exemplo moral.
Isto não foi sempre assim.
Para Ronald Reagan, Mandela era um terrorista, e o ANC só foi removido da lista de organizações terroristas dos EUA em 2008!
O partido conservador britânico de Margaret Thatcher, e a iron lady herself, chamaram-no o "Black Terrorist" e o ANC uma „típica organização terrorista“. Deputados defendiam que fosse fuzilado. Quem acreditava que esta organização pudesse uma vez governar, vivia em „cloud cuckoo land“, disse Thatcher. Durante muitos anos, ela bloqueou, junto com o seu amigo Reagan, sanções contra o regime de Apartheid.
Na Alemanha ocidental, este regime tinha um defensor incansável em Franz Josef Strauß, o poderoso Primeiro Ministro da Baviera. Não aceitava sequer o termo „Apartheid“. Na sua opinião, a postura de elevada responsabilidade religiosa e moral do governo da Africa do Sul era um modelo para o mundo. Assim disse nos anos 60. E no fim dos anos 80, quando a comunidade mundial finalmente aplicou sanções, disse que nunca, na sua carreira política de 40 anos, tinha visto um tratamento tão injusto dum país como a que a Africa do Sul recebeu.
O concerto na ocasião dos 70 anos de Mandela em 1988, ainda preso na altura, foi emitido em grande parte do mundo, exceto na Baviera. Aqui, por iniciativa do governo, as emissoras substituiram o programa com a reposição duma telenovela.

Estas histórias dão me vontade de dizer o que muitas vezes penso, mas normalmente não digo:
Que os conservadores, ao longo da história, têm escolhido em questões morais consistentemente o lado errado. Se tivessem sempre vencido, ainda teriamos a escravatura, a tortura, a pena da morte, a menoridade das mulheres, não teriamos democracia, nem tribunais independentes, nem liberdade de expressão, nem saúde pública, nem segurança no trabalho.

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E depois, num comentário:

Nos casos referidos, e em inúmeros outros, pode equacionar-se a postura conservadora - aqui: a favor da conservação da discriminação racial - com um clara inferioridade moral. Mas, como aprendi com Pedro Mexia e outros, há, filosoficamente, uma defesa teórica do conservadorismo do ponto de vista moral. O argumento visa não o conteúdo, mas o procedimento. A tentativa de alterar um statu quo imperfeito pode levar, dizem, em vez de para o melhor, para uma situação muito pior. Ser conservador é, visto assim, apenas ser prudente, e isto pode ser um imperativo moral.
Salta a vista, claro, que os que empregam este argumento, sempre estão bem na vida o suficiente para que não necessitem de alteração da situação para eles. Se necessitassem, por passarem fome ou serem escravos, por exemplo, estariam certamente dispostos de tomar riscos maiores. E há ainda muitos conservadores de convicção, que acreditam piamente na desigualdade enquanto uma lei da natureza que não só é impossível de alterar mas nem sequer se deve procurar superar!
Perante estes, já não encontro terreno comum para um diálogo moral.

O tema, claro, não se esgota nisto...



1 comentário:

jj.amarante disse...

Pois não o tema não se esgota, eu por exemplo, sou um esquerdista acidental, tenho alma de conservador mas não tenho lata para conservar a situação do país dado ser tão má: https://imagenscomtexto.blogspot.com/2017/07/o-esquerdista-acidental.html