(a propósito de "pomar", na Enciclopédia Ilustrada)
Só não estávamos preparados para o que se seguiu: ao ver a tabuleta a indicar “Fruita” saímos da 24, fomos descendo pelo meio das rochas, e de repente demos connosco num vale verde e fresco, ao longo de um pequeno rio, com um pomar onde pastavam corças. Entrámos com cuidado para não espantar os bichos, apanhámos alguma da fruta, deixámos na caixa o dinheiro que nos pareceu justo, e fomos visitar a escola histórica que me lembrou “Uma Casa na Pradaria”. A paz do lugar, o contraste do verde daquelas árvores contra as massas rochosas vermelhas, aquela escola antiga e a confiança de quem deixou uma lata em cima de uma mesa para as pessoas deixarem o pagamento da fruta que apanhavam, tudo isso me marcou de tal maneira que hoje, ao ver a palavra “pomar”, foi no que pensei. O dia todo.
Por não encontrar as fotografias fantásticas que lá fizemos, pus-me à procura de imagens no google, e descobri que aquele vale foi ocupado por mórmones. Tenho a certeza de que, se pesquisar mais dois ou dez dias, encontro informações sobre os povos que lá havia antes da chegada dos mórmones. Mas por enquanto só encontrei registo de estes terem começado a ocupar as terras à volta de Salt Lake City, e de em fins do séc. XIX alguns deles terem descoberto que aquele vale era óptimo para pomares. Ora bem: quando um texto escrito nos EUA diz que os colonos "descobriram que o vale era bom para a agricultura", desconfio logo. É que me vem à memória a voz da nossa guia nativa em Canyon de Chelly, na viagem que fizemos em 2009, a explicar um massacre terrível que lá houve: "os espanhóis viram os nossos pomares e ficaram cheios de inveja". Em todo o caso: no séc. XIX instalou-se naquele vale uma pequena comunidade de mórmones, construíram as suas casas e a escola que ainda lá está. Procurando um pouco mais também se vêem petróglifos. Os povos que os fizeram, esses, não se sabe deles.
Dali para a frente, não encontrámos mais pomares. Pelo contrário: em algum momento a estrada 24 contorna um monte quase no topo e começa a descer pelo meio de uma paisagem lunar. Melhor que lunar: são crateras rasas feitas por lajes de pedras sem arestas, numa sucessão de curvas em cores muito claras. Um espanto. Mas talvez não seja a 24, talvez seja a 12 entre Escalante e Boulder. Isto de ainda não ter um blogue em 2001 foi má ideia - agora não tenho como me lembrar do sítio exacto no Estado de Utah onde atravessei a lua .
Depois vem o Arches National Park, e a padaria francesa em Moab, e o Monument Valley etc., mas não conto nada disso porque lá não vi pomar nenhum.
Deixo algumas fotos que encontrei na net:
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