23 maio 2018

um racismo tão natural que nem notamos



O Matthias mostrou-me este vídeo com passagens da transmissão do casamento de Meghan e Harry na ZDF. Em tradução muito rápida e muito livre:

Como eles nunca chegarão a rei e rainha, podemo-nos dar ao luxo de aceitar um par assim exótico / ela tem raízes afro-americanas // penso que a rainha fecha os olhos e deixa passar Meghan // a origem da noiva: foi algo que chocou a Grã-Bretanha? // oh, a Inglaterra está habituada aos casais mais invulgares! É uma sociedade muito misturada // Harry escolheu uma mulher de um tipo muito diferente: é mais velha que ele, já fez uma carreira considerável, e - naturalmente - a questão das raízes afro-americanas // ... e tem uma mãe afro-americana - tudo isso faz parte da noiva, e torna esta relação tão especial // é este espírito afro-americano que está a entrar na família real por meio deste casamento // dantes, uma mulher destas servia apenas como amante // Stand by Me foi tão bem cantado, tão preto, cantado de forma tão fantasticamente preta.  

Respondi ao Matthias:
- Vou-te contar o pior de tudo: assisti durante várias horas, e não reparei. Até fui reler o post que escrevi sobre o casamento, a ver se tinha caído na mesma armadilha.

Resposta dele:
-
Haha não faz mal, às vezes é muito subtil. E sobretudo estavas adrenalizada hehe

("Adrenalizada". Se calhar já o deserdava, ao engraçadinho.)


6 comentários:

Paulo Topa disse...

Mas neste contexto nota-se imenso! A mudança de contexto e do "espírito" com que se está a ver/ler altera a percepção.

Paulo Topa disse...

Helena Araújo disse...

e depois de passar a adrenalina... ;)

ematejoca disse...

Não tive qualquer interesse em ver o casamento, mas penso que não acusaria de rassismo os comentários. Ao ver a fotografia no jornal, só perguntei "onde está o pai da noiva?". Mais tarde, ainda disse que a pobre Margret não casou com o homem que amava, mas vingou-se metendo-se no álcool e nas drogas.

O meu comentário também não é correcto politicamente. Who cares about it?

Helena Araújo disse...


Se falar em "casal exótico", "cantar como pretos", "as raízes afro-americanas da noiva são um tema" não é racismo, o que é para si racismo?

Quanto a "who cares about it": antes de mais, quem se devia preocupar é a pessoa que emite opinião. Como diz o Ricardo Araújo Pereira: "sou a favor da liberdade de expressão, porque assim fica mais fácil perceber quem são os idiotas."

ematejoca disse...

Tudo depende da perspectiva, minha cara Helena.
Aqui, na Alemanha, também me consideram de uma "mulher exótica", embora eu seja branca como a Branca de Neve.

Essa de "cantar de pretos" é um elogio, porque é um cantar de melhor qualidade do que o "cantar dos brancos".

O Ricardo Araújo Pereira, que até admiro, também diz as suas parvoíces, como por exemplo, que preferia que as filhas fossem adeptas do Sporting do que lésbicas.

Abraço de uma portuguesa perdida em Düsseldorf, que adora fazer figura de idiota.