16 maio 2018

"fato" (2)


Tenho ouvido muita gente a rir do #fato da Angela Merkel.
O meu sogro dizia, com um sorriso, que o único factor surpresa era tentar adivinhar se o casaco desse dia tinha 2 ou 3 botões. Outras pessoas dizem coisas bem mais desagradáveis, que geralmente se prendem com o hábito de humilhar e escravizar uma mulher pela sua aparência.
Pessoalmente, gosto. Não propriamente dos fatos em si, mas do facto de Angela Merkel ter criado uma indumentária de trabalho equivalente ao fato e gravata dos homens. Se não interessa para nada a roupa que um governante usa*, porque é que isso devia ser um tema para as governantes**?
Sempre me intrigou ver mulheres a competir no campo tradicional dos homens impondo-se a si próprias dificuldades suplementares: não apenas têm de ser muito melhores que os concorrentes homens para terem remotas possibilidades de serem consideradas aptas para o cargo, mas também têm de andar impecavelmente penteadas e pintadas, dentro de roupa desconfortável e em cima de saltos vertiginosos e pontas agudas.
De certo modo, este uniforme da Angela Merkel é um contributo para a luta feminista, porque liberta as mulheres da dupla obrigação de "sofrer para bela ser".

(*) Não interessa para nada a roupa que um governante usa - excepto quando é o Varoufakis e um caríssimo cachecol Burberry

(**) A governante ou a governanta? Quando se criticou a Dilma por se chamar "presidenta", disse-se que era um erro gramatical. Sendo assim, "governanta" não devia existir. Em que momento se decidiu dar esse nome às mulheres que governam um espaço doméstico, e por que motivo acharam por bem atropelar a gramática nesse caso?


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