23 maio 2018

casamento real - a vez do contraditório






Tinha estas fotos guardadas para publicar no post anterior, mas esqueci-me. Deixo-as agora, bastante a despropósito.

O meu post sobre o casamento de Meghan e Harry deve ter sido um dos mais lidos deste blogue. É isto a minha vida: o tanto esforço investido a escrever posts que acrescentem alguma coisa a este mundo vale-me umas poucas centenas de leitores (a minha eterna gratidão para cada um destes!), mas se partilho duas carinhas larocas na encenação perfeita da sua felicidade, caem-me aqui os curiosos como moscas no mel. O que é que estou a fazer mal? Razão tinha a minha avó: este mundo está roto, chove nele como na rua...

Também gosto destes momentos de evasão - e tanto, que reservei o sábado passado para saborear o casamento real. Mas gosto ainda mais dos outros temas que vou partilhando neste blogue - e tanto, que todos os dias volto a eles. Pelo que me surpreende o sucesso tão maior deste post, e dou comigo a ceder à tentação de passar para o lado dos que escreveram artigos críticos a este casamento. Por exemplo: Marriage of Myths, It's not Harry and Meghan - it's the monarchy I oppose, When we cheer the royals, democracy suffers. What a retrograde moment. Muito resumidamente, dizem que Meghan está a ser sugada para dentro da instituição que não respeita os direitos mais básicos dos seres humanos e não respeitará a sua individualidade, que este encanto proporcionado pelo casamento mediatizado é um dos factores de alienação que permitem perpetuar o que está errado, e que a entrada de Meghan na "Firma" e aquele sermão genuinamente cristão não passam de uma cínica cedência do sistema, uma cedência que faz parte da estratégia de sobrevivência deste.

Concordo com a maior parte do que dizem, mas pergunto-me por que motivo tinham de o dizer agora. Se era para dialogar, deviam esperar um pouco - os que gostaram de se deixar arrebatar pelo show não estão com cabeça nem disposição para falar racionalmente sobre o tema. E se é para se elevarem acima da populaça, podem juntar-se aos antipáticos que desataram a dizer mal do futebol no dia em que o Ronaldo marcou um golo que foi pura arte. Há um momento para criticar, e há um momento para deixar as pessoas festejarem sem complexos o que lhes dá prazer.

Aproveito a metáfora da minha avó: se a chuva que nos cai dentro de casa é a constante da vida, acredito que momentos como o deste casamento sejam os baldes providenciais debaixo das goteiras que permitem limitar os estragos e continuar a viver nestas condições. Atire a primeira pedra quem nunca se refugiou no álcool ou noutras drogas, no clubismo, nos rituais de grupo.

Não tenho (não temos) de pedir desculpa por esta interrupção.
A programação continuará dentro de momentos.


1 comentário:

Teresa disse...

"Há um momento para criticar, e há um momento para deixar as pessoas festejarem sem complexos o que lhes dá prazer. "
Sábias palavras, minha amiga. E muito Eclesiastes. Ou Turn! Turn! Turn!, se nos reportarmos à música.
https://www.youtube.com/watch?v=CZEYW2ROKK8

(não deixes de ver e ouvir, por favor)