Há dias tive um ensaio do meu coro numa escola primária berlinense, e reparei com agrado no grande esforço para acolher os miúdos que são filhos de emigrantes: nas escadas há um friso com as mãos dos miúdos e a bandeira do país de origem da respectiva família, nos degraus há palavras das diferentes línguas maternas, etc.
No meio de todos aqueles sinais de inclusão e igualdade, um cartaz com o país dos pais dos alunos que fazem parte do grupo de teatro da escola. Há pais que vêm da Alemanha, da Polónia, da Turquia, da China, do Kosovo, da França, do Líbano, da Tunísia, de Marrocos, da África (Gana) e da África (Guiné).
Pergunto: o que levou o professor a confundir continente com país?
A única resposta que me ocorre: racismo.
Da última vez que fui verificar, a Tunísia e Marrocos eram na África. Mas de um modo geral a pele das pessoas é ainda suficientemente clara para terem direito a tratamento diferenciado. Os de pele muito escura foram automaticamente metidos nessa massa indistinta a que se chama África. É certo que o adulto que escreveu os nomes se deu ao cuidado de acrescentar o nome do país dentro de parêntesis, mas o primeiro impulso - "África" - é tristemente revelador.
Isto é uma triste vida: era apenas uma manhã de sábado a ensaiar o programa do concerto que vamos ter em breve, e agora tenho de escrever à direcção da escola, a alertá-los para o modo como - apesar das boas intenções patentes em todo o edifício - inadvertidamente trataram alguns alunos de modo diferente devido à cor da sua pele.
(Ou então, peço ao Matthias. Ele sabe fazer isso muito melhor que eu.)
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