15 novembro 2017

"panteão"

No dia em que a palavra mágica da Enciclopédia Ilustrada era "panteão", um dos enciclopedistas escreveu este texto (a gente lá na Enciclopédia rimo-nos muito):

Ali estavam no #panteão postos: Garrett e Junqueiro, e o João de Deus... O Sidónio presidente quase rei, e o institucional golpista Óscar, jamais Acúrsio, Carmona, uns antes dos que vieram depois, e outros depois dos que vieram antes, mas todos sortidos... Arriaga e Teófilo, sucedendo-se sucessivamente sem cessar, até o mundo se acabar. O Delgado Marechal que estava nos Prazeres, já não estava nos prazeres... O literário, presumível 3º atirador, Aquilino, como uma águia, agora cega. E os últimos inquilinos, Amália, Sophia, e da Silva Ferreira, Eusébio, o amado do povo, por todos invejado... Ali estavam, postos, a beber o seu cházinho na sala dos fundos, quando o Mestre Aquilino assim diz:
"O pior dos crimes é produzir vinho mau, engarrafá-lo e servi-lo aos amigos"... "A tudo se habitua o homem, a todo o estado se afaz", logo diz, conciliador, João Leitão da Silva, o Garrett... "Mas ó Aquilino, isto não é vinho, pá! É chá!!!" - chuta Eusébio... Sophia, olímpica e grega, avança na sua elegante postura vertical, e apesar de estar deitada, acrescenta: "realmente, que bruto, só quero nos teus quartos forrados de luar, onde nenhum dos meus gestos faz barulho, voltar." Junqueiro, sacudindo o clerical pó do templo, vocifera: "Ó de Breyner, e que tal se fosses fazer poesia com métrica ali para o teu caixão, e mais o dicionário de rimas do Teófilo?"...
Fez-se um silêncio sepulcral...
O General, tomou as dores da dama, e exclamou: "você, evidentemente está demitido!" - Mas "demitido de quê?" - interrogava-se João de Deus, que por ali se distraía a brincar com umas letrinhas de plástico... UVA, PUA... "ó que interessante"...
Entretanto, Óscar Carmona e Sidónio Pais, movidos por um estranho e síncrono mal-estar, saíram discretamente, e foram cada um para seu caixotinho, conspirar contra o outro. Teófilo e Arriaga, saltam ambos das cadeiras deitadas e dizem ao mesmo tempo: "Viva a República!!!" Para logo caírem numa dupla e intrigante letargia...
Só Dona Amália, com a voz embargada, e pedindo um pouco de mel "se faz favor, que tenho a voz arruinada, desde que aqui estou" - Só ela, tem um momento de lucidez... "Isto faz aqui falta amor, pão e vinho e um caldo verde, verdinho, a fumegar na tijela..." - "Telefonem lá para a DGPC, por amor da Santa..."

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