15 novembro 2017

o que conta é a intenção



Uma pessoa põe-se a ver este vídeo de um cardeal a ser vestido por uma multidão de criados em plena igreja, ao som de música de órgão, e pergunta-se quanto tempo é que demorava a vestir a rainha Maria Antonieta, e como seria a música que tocavam enquanto lhe iam pondo em cima do corpinho um e outro e mais outro atavio, e se o pessoal da corte também estaria impacientemente à espera do "Ite, missa est".

Uma pessoa depois vê como o homem desfila pela igreja com os criados da corte a segurar a cauda vermelha do seu manto, e pergunta-se porque é que o órgão não toca a marcha nupcial, e onde estará o outro noivo.

Uma pessoa repara finalmente na exuberância dos panos à volta do tronco, e entende finalmente:
é uma gueixa cristã!

Pensei logo em Maria Madalena, claro. E comovi-me com o simbolismo da globalização da mensagem cristã: um cardeal feito gueixa da Igreja de Jesus Cristo, treinado para animar e satisfazer os fiéis, e para lhes servir chazinho com todos os requintes.

O cardeal Burke se calhar não devia ler tanto a Hola, e alguém havia de lhe dizer que estas encenações assim agora é só nas revistas, mas pronto: o que conta é a intenção.

[No site onde encontrei isto apontam um detalhe inacreditável, nestes tempos de escândalo devido à pedofilia na Igreja: ao minuto 3:25 há um miúdo que ajoelha várias vezes à frente dele, e beija o barrete e o manto do marmanjão.]






4 comentários:

jj.amarante disse...

Só visto, aprender até morrer. Existe algum "tutorial" a explicar o significado de cada elemento das vestes do cardeal, daquela multidão de acólitos e de toda a coreografia?

Aquilo é mesmo na Basílica nova de Fátima, fui confirmar com umas fotos que tirei lá há uns anos, nunca tinha visto uma cerimónia destas.

Fará parte da liturgia? Nem sei que diga, parece-me uma cena muito triste.

Helena Araújo disse...

Parece que é um cardeal americano que às tantas pensará que o falecido Luis XIV reencarnou nele...
Isto está a anos-luz de distância do papa Francisco e, mais importante ainda, da mensagem de Jesus Cristo. E o que me assusta é haver gente que gosta, e que embarca nestas pompas.
Talvez tenha feito parte da liturgia há 500 anos. Pessoalmente, nunca vi nada sequer parecido. Apericaltar um cardeal no altar?! No altar de uma igreja?!

Ana P disse...

Achei este artigo muito interessante! Explica essa tal facção da igreja de que o Burke faz parte. Achei interessante essa divisao entre uma visao de uma igreja virada para o mundo, e uma igreja virada para si mesma, e imagino que seja difícil de reconciliar.. Pessoalmente só faz sentido para mim uma igreja virada para o mundo, mas imagino que algumas pessoas encontrem paz numa igreja que virada sobre si mesma, que quase nao muda...Agora também devia admitir que durante muito tempo a igreja não foi muito cristã (tempos da inquisição) e o vaticano e as estruturas que existem são herdeiras desse legado, e que deviam ser repensadas para serem mais fieis à mensagem principal de Jesus, de amar ao próximo. E nisso o Papa Francisco é um herói! Até em termos ambientais, e anti-capitalistas. Especialmente considerando os tempos que correm.
https://www.theguardian.com/news/2017/oct/27/the-war-against-pope-francis

Helena Araújo disse...

Ana, eu estava a ser irónica. Não queria explicar nada.
Mas gostei muito da sua leitura, particularmente dessa distinção entre Igreja virada para si própria e Igreja virada para o mundo.
Talvez haja quem goste de uma Igreja virada para si própria - e é livre de gostar, claro.
Mas essa não é a Igreja de Jesus Cristo.