07 setembro 2017
em trânsito (2)
"Daqui a hora e meia chego a Berlim": era bom, era.
Pouco antes da chegada prevista a Berlim, o piloto da KLM informou-nos que não sei quê não sei quê íamos aterrar em Hamburgo. Não tinha prestado atenção, porque pensei que era conversa habitual, a dizer a que horas chegamos e que tempo faz, de modo que só ouvi o final, "Hamburgo", e fiquei alarmada. O vizinho do lado também não tinha percebido bem. E muitos outros, tal como nós (coitados dos pilotos do avião, se soubessem a pouca atenção que damos ao que dizem...). As hospedeiras começaram a avançar pelo corredor explicando pacientemente: há mau tempo em Berlim, temos de esperar 45 minutos para poder aterrar, vamos ter de ir a Hamburgo reabastecer o avião. Pensei logo no furacão Ema, e na possibilidade de ter mandado um primo para a Europa. Mas as hospedeiras estavam muito calmas, explicavam de forma descontraída, se me deixassem mandar duplicava-lhes o salário: foram excelentes.
Comentei com o vizinho da esquerda: "assim como assim, há que tempos que queria ver a nova Filarmonia de Hamburgo", e rimo-nos. Sempre é melhor remédio.
A aterragem em Hamburgo foi complicada. Uma ventania das fortes, o avião aos sacões, lembrando um filme que vi há anos de um avião a tentar aterrar em Hamburgo (se houvesse uma lista de filmes proibidos, este devia constar). Lá estávamos nós: o avião aos saltos, o pessoal muito calado, eu a imaginar a quantidade de orações que estariam a ser ditas naquele momento, as linhas daquela ligação celeste congestionadas. E, para mais, nem sequer vimos a Filarmonia.
Se foi um momento difícil para mim, que dizer do Joachim, que aterrara pouco antes no meio de grande ventania, estava no aeroporto à minha espera, via nas informações do ecrã das chegadas que todos os aviões tinham atraso, e de repente deixou de ter informações sobre o avião em que eu vinha. A linha relativa àquele voo desapareceu, pura e simplesmente. Que é que se pensa num momento desses? Mais congestionamento nas tais linhas.
Ficámos sentados nos nossos lugares enquanto esperávamos o camião do combustível. Para meu azar, ia apertada entre dois matulões. O da direita era gordo, além de alto, e ia sentado com as pernas abertas porque de outro modo praticamente não cabiam. Sem ter para onde fugir, passei todas aquelas horas a sentir o calor da perna do mal-educado. Depois desta e das várias experiências recentes em aviões norte-americanos, dou comigo a pensar que isso de comprar um bilhete para uma cadeira, e usar cadeira e meia (sendo que a outra metade é a do desgraçado do passageiro que vai ao lado), é abuso. As companhias de aviação deviam medir as pessoas que andam nos aviões, tal como medem a dimensão da bagagem. Quem não cabe no espaço previsto no bilhete que pagou, compra dois bilhetes. Ou então as companhias dão-lhe um segundo bilhete, e dividem o preço pelo total dos passageiros.
Aqui está uma questão interessante: quem deve pagar a diferença de custos relacionados com a obesidade e a altura das pessoas? Até agora, a questão tem sido resolvida de forma informal e aleatória: quem paga é o desgraçado do vizinho.
Ao chegar a Berlim tivemos de esperar pelos autocarros, depois tivemos de esperar por não sei quê. Alguém largou para o grupo: "o autocarro já chegou, mas agora falta o motorista" - por essa altura, já só nos ríamos. Quando já estávamos quase todos nos autocarros dei-me conta de que me esquecera do casaco no avião, deixei a minha mala de mão junto às escadas, subi a correr, e ouvi alguém dizer em pânico "fujam, está ali uma mala abandonada!"
De resto, nada. O Fox não morreu do coração quando me viu, o lago está bonito, a luz já tem a doçura do outono. Acabaram-se as férias de verão, quando conseguir abrir caminho pelos 20 G de fotografias que tirei, ponho aqui algumas.
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3 comentários:
Quando os matulões vêem a minha pessoa no avião ficam logo felizes da vida. Enfim, eu devia ser subsidiada...
Uma das coisas que mais gosto de observar quando estou no Hall de chegadas do aeroporto à espera de alguém, é a alegria dos cães que vão esperar os donos e quando os veem chegar dão saltos no ar absolutamente acrobáticos e bem mais altos do que o comprimento dos seus corpos. É até emocionante.
Portanto imagino o Fox. :-)
Rita,
pois é. Como eu digo: deviam pagar metade do teu bilhete. :)
Susana,
é muito bonito, mesmo.
O Fox estava no banco de trás do carro, e quando me viu a meter as malas conseguiu saltar para vir ter comigo. Foi a primeira vez que fez isso. Mas depois deixei-o ir ao meu colo, à janela, e ele até se esqueceu da alegria porque ia muito interessado no que via. :)
Outras vezes, quando chego a casa depois da viagem, levo-o logo a dar um passeio, para ele não se matar de comoção.
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