19 setembro 2017

campanha eleitoral na Alemanha - "Angela Merkel, a mãe da AfD"

No próximo domingo há eleições na Alemanha. Quando um dos temas mais importantes do momento é a hipótese de a AfD se tornar o partido mais importante da oposição, traduzo partes da coluna de Jakob Augstein no Spiegel:

Quando um dia se fizer um balanço sobre a era desta chanceler, do lado do "haver" vai constar que Angela Merkel é a mãe da AfD. Era ela quem estava ao leme quando os nazis entraram no parlamento federal alemão. Só por isso já merecia perder as eleições. Mas com Merkel é como com o FC Bayern München  - vota-se, e no fim é ela quem ocupa o cargo. A quem devemos dar o nosso voto, se queremos que a chanceler pague a factura? Ou: será que vale a pena ir votar?

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[O artigo online interrompe aqui para fazer esta publicidade, com links - traduzo também, porque é um bom exemplo do que o Spiegel está a fazer para conseguir financiar-se.]

Mais sobre este tema em Spiegel, caderno 38/2017



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Nazis. Palavra pesada. Será que estamos a banalizar os assassinos de judeus e os apologistas da guerra mundial do III Reich? Não. Jens Maier, da AfD, teme a "criação de povos mestiços" e quer acabar com o "culto da culpa" dos alemães. O seu camarada Wilhelm von Gottberg citou apreciativamente um neofascista italiano com as palavras: "a verdade dos judeus sobre o Holocausto está a receber protecção jurídica em cada vez mais Estados". E todos conhecem as afirmações de um dos candidatos principais da AfD, Alexander Gauland, sobre a deputada alemã de origem turca que deve ser "removida" para a Anatólia, e sobre termos o direito de nos orgulharmos por acções dos soldados alemães na segunda guerra mundial.

Sigmar Gabriel tinha razão quando há tempos dizia que muito em breve haverá pela primeira vez desde 1945 verdadeiros nazis a usar a tribuna do Reichstag.
Agora que a colheita castanha está à vista, vale a pena pensar em todos os jornaleiros que espalharam afincadamente o adubo que deu origem a este estrume:


["castanho" é uma palavra muito usada para designar os nazis, por ser essa a cor associada ao partido; esta de adubar para produzir estrume é uma liberdade criativa, necessária dada a impossibilidade de escrever "merda"]

- Thilo Sarrazin, obviamente, o padrinho da revolução da extrema-direita, que com as suas arriscadas estatísticas deu um rosto burguês ao ódio viscoso contra os muçulmanos.
- A revista Cicero, que publicou o "discurso zangado de um desapontado", no qual o realizador Oskar Roheler acusa Angela Merkel por já não ter "raízes no meu país". (...)
- Rüdiger Safranski, que simpaticamente mostra compreensão pela "raiva do povo", de quem é a frase: "A política tomou a decisão de inundar a Alemanha" - referindo-se às pessoas que fogem a uma guerra civil. Safranski recebeu há pouco o prémio Ludwig Börne na Paulskirche em Frankfurt (um dos berços da Democracia alemã). A laudatio foi dita por Christian Berkel, um actor famoso em Berlim, muito apreciado na empresa Springer.
- Por sua vez, nas Edições Springer - que afastariam todas as acusações de proximidade da AfD - trabalha o publicista Henryk M. Broder, que com o seu blogue "o eixo do bem" criou um parque de recreio para edições de extrema-direita. Por exemplo para Vera Lengsfeld, que em tempos foi  deputada do CDU mas agora aparece em público com Frauke Petry.

(...)

Quando o país marchou em direcção à direita, a responsabilidade estava nas mãos de Angela Merkel. A ameaça à classe média, a precarização das classes de rendimentos mais baixos, a desilusão de muitos alemães a respeito da justiça da repartição e da igualdade de oportunidades - tudo isto aconteceu durante o período em que ela foi chanceler. E tudo isto faz o berço da AfD.
Merkel é a mãe do monstro. É responsável pela mais importante - e devastadora - evolução política e social dos últimos 25 anos.


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