08 agosto 2017

a perseguição a Trump

Há algum tempo que me sinto incomodada pelo modo como a comunicação social persegue Trump. Não falo das notícias sérias, que são indispensáveis, mas de um gozo especial em fazer notícias mordazes a propósito de detalhes insignificantes, passar imagens em que ele aparece muito desfavorecido, chafurdar em lamas antigas para encontrar algo com que o provocar.

Esta manhã, por exemplo, na newsletter diária do Spiegel, um dos responsáveis da revista falava assim a propósito das férias de Trump:

Dantes, quando Donald Trump ainda não era presidente, quando ainda nenhum conselheiro especial se lhe colara aos calcanhares e não era atormentado diariamente com indiscrições da Casa Branca - nesse tempo bendito Trump era de opinião de que fazer férias era coisa de fracotes. "Nice work ethic", tuitou ele, quando Barack Obama no Verão de 2011 saiu para 10 dias de férias em Martha's Vineyard. 
Desde que se tornou presidente, não há nada que mais gosto a Trump que escapar-se ao fim-de-semana para a Florida. E no que diz respeito às férias de Verão, de repente mudou de opinião e já não quer quebrar com a tradição do seu antecessor. Desde a sexta-feira passada está num clube de golfe em New Jersey, para umas férias de 17 dias. "Se uma pessoa não tem gosto pelo trabalho, é porque está no lugar errado", disse Trump há alguns anos, a propósito do tema férias, numa altura em que era ainda um feliz empresário de imobiliário nova-iorquino. Talvez por estes dias tenha vagar para reflectir de novo sobre esta frase.

Qual é a necessidade de falar de Trump nestes termos? Aliás: isto que está aqui dito é sequer relevante?

Esta perseguição  - exagerada, fora de foco, impiedosa e avessa a regras elementares de fairness - a um político eleito tem efeitos desastrosos: alimenta o ressentimento daqueles a quem Clinton chamou "deploráveis", dá-lhes novas razões para a escolha que fizeram, aumenta ainda mais o fosso entre "eles" e "nós" e reforça a ideia de uma imprensa vendida aos interesses "deles". Ou seja: uma imprensa na qual não se pode confiar.

Não é esse o caminho para melhorar o funcionamento do sistema democrático. Precisamos de uma imprensa imparcial e concentrada no que é realmente importante, deixando para os programas satíricos os materiais de fait divers e a ridicularização dos políticos.

 


1 comentário:

Ant.º das Neves Castanho disse...

Apontar urbanamente incongruências éticas do detentor atual do cargo de Presidente dos Estados Unidos da América não me parece nada mordaz, ou deselegante, muito menos irrelevante para a informação dos leitores do «Der Spiegel».

Olha se tu vivesses em Portugal e tivesses que levar diariamente, em especial no correio da manha, com chicana atrás de chicana sobre o Sócrates, cada qual mais asquerosa do que a antecedente, que nem fazes uma pequena ideia?

Acho que já terias emigrado, nem que fosse para Angola...