Da Enciclopédia Ilustrada:
Estou aqui há 24 horas a pensar se conto ou não conto. É que há coisas de
 que preferia não falar, porque trazê-las à luz das palavras pode 
implicar ter de mudar de vida...
 Bem, cá vou eu de cabeça: alguém aqui usa veneno de ratos?
 Eu... gulp... enfim, lá na quintinha minhota é um sarilho. Entram por 
todos os buracos das paredes (e se elas os têm!), metem-se pelos 
armários, roem, estragam, sujam. 
 Se penso nas dores lancinantes com que morrem, encho-me de pena e vergonha. Mas se penso no raio dos bichos a subir-me pelas paredes quando estou a almoçar, esqueço logo os imperativos morais. 
 No verão passado, por exemplo: comprei umas chouriças maravilhosas na 
feira, e para as deixar ao ar sem os ratos lá chegarem espetei uma 
colher de pau, de plástico muito liso, num buraco da trave por cima da 
lareira, e pendurei as chouriças na ponta. Para os ratos, seria uma 
subida de mais de 2 metros a pique, e depois um percurso tipo sobre o 
arame até chegar às chouriças, suspensas por um cordel fino sobre o 
vazio. Estava toda contente com a solução. Até ao dia em que fiquei 
doente na cama, com o cão muito solidário aos meus pés. Às tantas 
reparei que o Fox estava todo concentrado no pilar da lareira. Olhei 
também, e vi uma mancha negra a descer lentamente. Primeiro pensei que 
fosse um escaravelho gigante e peludo, mas depois reparei que era um rato a 
descer pelo granito, de cabeça para baixo. Fui às chouriças: estavam 
ratadas!
 E o Fox, no meio disso tudo? Impávido e sereno, como se 
estivesse a ver um programa do Natural World sobre uma espécie protegida
 e em vias de extinção. 
 Em vias de extinção, quem me dera! Não lhes perdoo aquelas chouriças.
 E assim vai a vida: tenho um cão um pouco maior que uma ratazana que é 
tratado com todos os cuidados e carinhos, e provoco sofrimento e morte a
 outros animais que não quero ter por perto. Animais esses que noutras 
famílias são considerados domésticos, e tratados com todos os cuidados e
 carinhos. 
 Não devia ter lido o livro do Génesis. Isto de sermos responsáveis pela Criação só me dá dores de cabeça...
1 comentário:
Morei numa casa velha de rés-do-chão e primeiro andar na rua dos Mártires da Liberdade no Porto onde havia ratos e se punha trigo roxo na despensa. Nos apartamentos de Lisboa que têm sido casas mais modernas não têm aparecido ratos mas se aparecessem desratizava sem problemas. Os ratos propagavam a peste e outras doenças. Pode combatê-los de forma ecológica com gatos mas nesse caso não pode sobrealimentar os gatos com essas comidas de supermercado, tem que mantê-los esbeltos e com alguma fome.
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