13 abril 2017

atentado de Dortmund

Ultimamente dou comigo a consultar o site do Bild para ler, em cima do acontecimento, notícias com mais detalhes . Além de parecerem mais informados que os outros, explicam com clareza.
A pedido de vários amigos passo um resumo de dois artigos ("Atentado bombista contra o autocarro do BVB - pedaços de metal voaram até 100 m de distância", de 12.04.2017 - 23:21, e "Especialista analisa o conteúdo da mensagem do ISIS", de 12.04.2017 - 21:54 )

Podem clicar nas imagens para ver melhor.

(Bild: os vidros de segurança duplos do autocarro estão partidos)

Tradução das caixas:
1. Saída do autocarro às 19:15
2. Explosões simultâneas às 19:16. Os explosivos estão escondidos numa sebe ao longo da rua, numa extensão de cerca de 20 m.
3. A explosão é tão forte que alguns pedaços de metal se cravam na parede da casa em frente.
4. Gravemente atingido, o autocarro vira à direita e pára (19:17).
5. Os jogadores saem do autocarro. Alguns correm para mais longe, e reúnem-se 80 m à frente.
Topo, à esquerda: uma residente diz que toda a casa tremeu.
A vermelho: as mensagens foram encontradas junto ao local da explosão.


"Em nome de Alá, o misericordioso, o compassivo,

Os nossos abençoados irmãos já mataram 12 infiéis na Alemanha. Mas pelos vistos, Merkel, tu não te importas com os teus pequenos súbditos sujos. Os teus Tornados continuam a voar sobre o território do califado, para assassinar muçulmanos. No entanto, nós permanecemos firmes pela graça de Alá.

A partir deste momento,
constam da lista da morte do Estado Islâmico todos os infiéis que forem  actores, cantores, desportistas, bem como pessoas famosas na Alemanha e nas outras nações de cruzados .

E assim ficará enquanto não forem cumpridas estas exigências:
- retirar os Tornados da Síria
- fechar a Ramstein Air Base."


Foram encontradas três exemplares desta mensagem junto ao local do atentado.

Os autores do atentado tiveram o cuidado de pôr as bombas num local fora do raio das câmaras de vigilância do hotel. A construção e a activação das bombas exigem um elevado conhecimento técnico. O autocarro foi apanhado em cheio, o que significa que os criminosos estavam por perto e sabiam exactamente quanto tempo é que as bombas demoravam a detonar.

Embora a mensagem pareça islamista, há algumas dúvidas. O especialista em terrorismo Peter Neumann disse em entrevista ao Bild:

- É a primeira vez que deixam três exemplares da mensagem no local do atentado.
- O texto foi escrito em alemão, e faltam os símbolos típicos do ISIS.
- A formulação "Califado" é atípica. Os verdadeiros adeptos do ISIS nunca fariam essa formulação. Eles falam em "Khilafa" - é esse o conceito ideológico do "Estado Islâmico", o nome de marca. É como se nós disséssemos "computador maçã" em vez de "PC Apple".
- São feitas exigências concretas. O ISIS nunca entra neste tipo de detalhes. Os seus membros costumam dizer frases do género: "Lutaremos até vos termos exterminado e o Estado Islâmico se espalhar por todo o mundo". E nunca sugeriria que é possível comprar a sua boa vontade com o encerramento de uma base aérea.
- A formulação sobre a Merkel e os "pequenos súbditos sujos" é mais própria da extrema-esquerda. Nunca apareceu nada semelhante num texto islamista.

Ainda há dúvidas sobre a origem islamista da mensagem, mas na quarta-feira foi detido um iraquiano que está há muito tempo sob a mira da polícia. Suspeitava-se que tivesse explosivos em casa, e num telefonema que estava sob escuta fez alusões suspeitas. Não se encontrou nada na casa dele, e os cães não descobriram qualquer rasto de explosivos. A polícia também investigou um libanês porque ao entrar na sua casa devido a um conflito familiar descobriu um guarda-chuva do hotel onde a equipa estava alojada. O suspeito acabou por sair em liberdade.
 
(Bild: Sebe onde as bombas estavam escondidas.)

Também apareceu outra mensagem, desta vez numa plataforma da internet usada pela extrema-esquerda. Peter Neumann considera improvável que seja verdadeira, dizendo que é muito parecida com uma que apareceu após os ataques à mesquita e ao centro de congressos em Dresden, em Dezembro de 2016, e que se revelou ser uma falsificação com origem em grupos da extrema-direita.
Conclusão: há tantas contradições que não se pode considerar provado que este ataque é obra de islamistas. É preciso investigar também noutras direcções. O explosivo usado poderá dar pistas sobre a autoria do atentado, uma vez que os vários ramos de terrorismo têm cada um a sua preferência.

Mais alguns excertos da entrevista:

- O modo como as bombas foram colocadas lembra um método muito usado no Iraque, por exemplo. - Deve haver vários envolvidos, que terão alguma experiência na construção de explosivos; a operação foi planeada com todo o cuidado.
- O ISIS já aconselhou as pessoas a evitar usar explosivos, porque a construção de bombas se tem revelado demasiado complicada, e sugeriu que recorram antes a meios mais simples, como facas ou veículos. 
- A hipótese de terem sido simpatizantes do ISIS não é de afastar. O ISIS tem vários modos paralelos de acção: faz os seus próprios atentados, dá indicações aos seus seguidores para fazerem outros, e também diz aos simpatizantes que devem avançar sem esperar apoio da organização.
- A hipótese de terem sido hooligans é posta de parte porque nesse caso as mensagens não se dirigiriam contra toda a Alemanha, mas apenas contra o Borussia Dortmund. 
- O ISIS ainda não se pronunciou sobre este atentado. Enquanto os seus autores não forem presos, o mais provável é continuar em silêncio, para proteger os seus (eventuais) membros. Também não se pronunciou sobre o atentado em Estocolmo, porque o autor ainda está vivo.
- Porquê um atentado com apenas dois feridos? O ISIS já percebeu melhor que qualquer outro que no terrorismo o que importa é criar terror. Isso não implica necessariamente matar muitas pessoas. Com a decapitação de um padre em França, uma única pessoa, o ISIS conseguiu semear muito mais medo e pânico que com ataques que mataram 15 pessoas. Se um camião em Berlim avança sobre um grupo de pessoas, o objectivo é provocar o maior número possível de mortes. O que importa no ataque a um alvo concreto, como o autocarro de uma equipa de futebol famosa, é a força simbólica. Nenhum jogador de futebol e nenhum adepto deve sentir-se seguro. 


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