O Alentejo pejado de água. O caminho perdido entre sobreiros. A amiga que põe na mesa uma tarte de limão, a minha favorita, me lembra a rir a proposta que lhe fiz num verão passado - casar com ela para gozarmos as nossas noites loucas a fazer massa areada -, e depois me lê alguns poemas e cartas que o marido lhe ofereceu, as frases de entrega confiante em que um homem se escreve. O amor ao futuro num bisavô que me mostra com orgulho a encosta de sobreiros que acabou de plantar. O carinho num casal de há mais de sessenta anos, a enorme amizade entre os dois como resguardo contra a hostilidade dos corpos envelhecidos. O livro de memórias que me confiam: as pessoas identificadas pela diminutivo familiar e pelo nome de registo, deixando respirar nas entrelinhas do escrito o seu nome mais íntimo que só Deus sabe.
E um cão enorme, o rafeiro alentejano que guarda o monte e a paisagem, deitado aos meus pés a pedir festinhas.
O meu Alentejo é feito de comovente confiança.
Sem comentários:
Enviar um comentário