01 março 2017

dia 9 da Berlinale 2017




Falam muito de o politicamente correcto nos estar a sufocar e a cercear a liberdade, ele são as sugestões para retirar certas palavras dos clássicos ou para retirar os cigarros dos filmes (será que vão usar photoshop para os trocar por chupa-chupas?), e avisam-nos com tal insistência que uma pessoa quase se sente tentada a acreditar que o nosso mundo está cada vez mais asséptico. Mas depois vai ver os filmes da Berlinale, e no écran anda toda a gente a fumar como se não houvesse amanhã.
De modo que podem sobressaltar as vítimas do politicamente correcto: terão de arranjar outras queixas, que esta aqui não funciona.


1.




Kongens Nei(The King's Choice), de Erik Poppe, conta um episódio pouco conhecido da segunda guerra mundial, quando a Alemanha decide avançar para a Noruega e o rei se vê confrontado com a necessidade urgente de tomar uma decisão. É um filme fácil de ver e informativo, que vai evoluindo ao ritmo das tensões no seio dos poderes (tanto entre o diplomata alemão e o exército de invasão quanto entre os políticos noruegueses), e quase nos leva a pensar que aquela história acabou bem. A Noruega foi invadida, mas continuou de cabeça levantada - é o que interessa...
Um exercício de auto-estima, e mais um contributo para a idealização do modelo escandinavo: um rei que defende a Democracia acima de todos os interesses, e simultaneamente muito simples e dedicado à família, especialmente aos netos. Um exemplo, um exemplo.


2.



Joaquim, de Marcelo Gomes.
Nota mental: nunca mais ir ver na Berlinale um filme em que andem à procura de ouro. Andam, andam, andam, não encontram nada e pelo meio até se perdem do filme e das personagens. Já foi assim com o Gold de Thomas Arslan, foi outra vez com o Joaquim.


3.



La Libertad del Diablo, de Everardo González, um documentário mexicano sobre as consequências do crime organizado naquele país. A opção de pôr máscaras em todas as pessoas entrevistadas ou envolvidas (vítimas e familiares, criminosos, polícias) faz deste documentário um exercício de distância e intimidade: os rostos reduzidos ao abismo dos olhos e à boca que diz em palavras cruas o sofrimento, o medo, a cupidez da violência.
É um filme muito duro e difícil - absolutamente a não perder.


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