13 fevereiro 2017

dia 5 da Berlinale 2017



O ritmo começou a acelerar: saí de madrugada com o Joachim, atravessei o Tiergarten, fui buscar os bilhetes para amanhã. Vi o filme Helle Nächte, de Thomas Arslan, que é fácil de resumir: road movie de pai e filho, e quem precisa de fazer o coming of age é o pai, mas não vai muito longe.

Queria ver The Party, da Sally Potter, mas já não havia lugares. De modo que apanhei a S-Bahn para ir tentar ver Viceroy's House, e dei boleia a dois rapazes ingleses, estudantes de cinema. No caminho apontei-lhes o teatro do Brecht, e eles não sabiam quem era Brecht. Estou aqui a pensar se deva desacreditar para sempre da Humanidade, ou se deva desacreditar de mim. Alguém sabe como é que se diz Bertolt Brecht em inglês? É que se calhar foi isso...

No Friedrichstadt Palast perguntei se deixavam entrar sem bilhete as pessoas que têm acreditação. Disseram que não, que já não fazem isso, e foram chamar a responsável. Que me deu uma explicação interminável sobre não ser possível, nem ali nem em nenhum dos outros cinemas, e que as regras tinham mudado, etc. etc. etc., maaaaas... alguém tinha um bilhete a mais e deu-lhe, com a incumbência de o oferecer a uma pessoa simpática que precisasse. Tripliquei logo ali o sorriso, devo ter ficado com cara de botox mesmo muito mal aplicado. Mas consegui o bilhete.

Viceroy's House é uma lição de História simplificada para o nível dos leitores de Correio da Manhã, ou assim, com escândalos políticos, traições, e o conflito da divisão da Índia e do Paquistão retratado por um casal de criados no palácio do vice-rei. Um filme vistoso e agradável, tipo Bollywood, mas sem as partes em que desatam todos a dançar. 

Também vi a primeira fornada de curtas, com o Coup de Grâce da Salomé Lamas, e uma tomada de posição forte no debate que se seguiu: o produtor anunciou que ia entrar em greve e não voltava a fazer filmes curtos, porque em Portugal não havia condições, e a Salomé falou da entrega total da equipa. "Este filme só foi possível porque as pessoas do grupo foram muito exploradas", concluíram. Exploração. Não me lembro de ter ouvido ali alguma vez palavras tão directas sobre as condições em que muitos destes trabalhos são feitos.

O dia acabou na Audi Lounge: a ver chegar os figurões para a estreia do filme da Sally Potter, e a ouvir um concerto de um grupo berlinense, os Die Höchste Eisenbahn, no pequeno palco do pavilhão.

Amanhã há mais (e pressinto a gripe da Berlinale a anunciar-se, ai!)




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