31 janeiro 2017

"leck mich im arsch" (atenção: post com bolinha branca)

"Leck mich am Arsch", "lambe-me no cu" - nas formas abreviadas: "lambe-me" ou "podes-me" - é uma expressão muito usada em alemão para exprimir repúdio e desprezo por alguém, para dar um tema por encerrado, para manifestar surpresa ou alegria ou como quem diz "a propósito", entre outros. É uma espécie de "fuck off", só que, como já aqui se disse, em alemão os palavrões são mais da área dos excrementos que da sexualidade.
Investiguei um pouco a origem. Chamam-lhe "saudação suábia", ou "a frase de Götz", depois de Goethe a ter posto na boca de Götz von Berlichingen (3º acto, quando está cercado no seu castelo: "Diz ao teu comandante que tenho o devido respeito por sua majestade imperial. Quanto a ele, diz-lhe que me pode lamber no cu.")

Mozart (como não?) pegou no tema para fazer um cânone, com o texto "lambe-me no cu, depressinha, depressinha", que a editora alterou para (em tradução ainda mais rápida que de costume) "Sejamos alegres! / Não adianta resmungar! / Rezingar, rosnar é perda de tempo, / é o maior fardo da vida. / Por isso, sejamos alegres!"



Durante muito tempo, pensou-se que o cânoe "Leck mir den Arsch fein recht schön sauber" ("lambe-me o cu com fineza e bem limpinho") seria também de Mozart, mas acabou por se descobrir que a música era de Wenzel Trnka von Krzowitz ("Tu sei gelosa, è vero") e só a letra era (oh, que grande surpresa!) de Mozart.

De onde virá essa expressão?
Uma hipótese será o costume medieval de exprimir a submissão indicando a diferença de níveis pela latitude do beijo - pés, fímbria do manto, joelho, mãos, etc.).
Outra hipótese está ligada à crença arcaica de mostrar as nádegas nuas para afastar um perigo ou um ser indesejado (monstro, bruxa, praga).

Uma das gárgulas da Igreja Matriz de Caminha é um homem a mostrar as nádegas nuas. Durante muito tempo pensei que seria para chatear os espanhóis (embora não esteja virada para Espanha, mas isso são detalhes sem importância neste tempo de factos alternativos). Agora, pergunto-me se essa igreja terá sido construída por suábios...
Estou a brincar, mas estou a falar a sério: talvez haja uma ligação entre esse tipo de gárgulas, os suevos que atravessaram a Europa para se instalarem junto ao nosso Atlântico, e a saudação suábia.  Que em Portugal acabou por se transformar (lá está a passagem da analidade para a sexualidade) para "chupa!"


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