09 outubro 2016

um hijab, meu reino por um hijab...



O que mais raiva me dá neste vídeo é ver a figura triste que a mulher involuntariamente faz no meio daqueles dois asquerosos. Sabemos o que estiveram a dizer sobre ela - embora não seja propriamente ela, porque não repararam na pessoa, só lhe viram as pernas, só previram o beijo imposto, a "pussy" ali à mão de semear - e percebemos a intenção no que lhe dizem.
 
"Então e um abraço ao Donald?", impõe o Billy Bush (já agora, um pouco de contexto: o Billy Bush é primo direito do então presidente dos EUA). Sabemos o que está a pensar, esse escumalho, sabemos a infâmia dos dois homens sob aquela máscara de pessoas simpáticas. Mas a mulher não sabe, e sorri, e abraça, e tenta responder com humor ao cerco traiçoeiro e cúmplice que lhe fazem. Avança no seu vestido sexy, preparou-se mais ou menos voluntariamente para ser servida no altar destes dois machos, num sacrifício que desconhece estar a decorrer.

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Da próxima vez que mandarem polícias obrigar mulheres a despir-se numa praia, melhor seria poderem dar garantias de não haver nas redondezas pessoas com este olhar despudorado, desrespeitador e invasivo, e este discurso que reduz as mulheres a objectos.
O vídeo da conversa entre o Trump e o Bush é apenas mais uma confirmação de que o mundo ocidental não tem autoridade moral para impor códigos de vestuário às mulheres.

(Sim, eu sei que não são as mulheres que devem tapar o corpo para se protegerem do mau olhado, são esses predadores que deviam usar óculos de desfocar, se não se conseguem refrear. Mas enquanto alguns não se souberem controlar, e enquanto continuar a tendência para relativizar e desculpar esse comportamento, que seja dada a cada uma a liberdade de se proteger como quiser - sem prejuízo de um trabalho que a sociedade tem de fazer como um todo para que as mulheres não se sintam ameaçadas e devassadas no espaço público.)
 

1 comentário:

Teresa disse...

É demasiado repugnante. As fraquezas e os deslizes do passado que tantas vezes emergem das campanhas eleitorais (como arma muito feia, diga-se, e não poucos candidatos acabaram por renunciar quando se viram crucificados em praça pública por uma população perfeita que espera daqueles em quem vai votar a castidade de uma carmelita, erros de julgamento, más decisões, leviandades que podem arruinar para sempre uma carreira política - veja-se Teddy Kennedy e Chappaquidick, nessa noite perdeu qualquer hipótese de chegar à presidência), nada se compara com esta baixeza. Recuso-me a acreditar que esta criatura seja eleita.