22 março 2016

caso me queiram criticar por não falar hoje de Bruxelas...

Caso me queiram criticar por não falar hoje de Bruxelas, critiquem-me também não ter falado há três dias de Istambul, e há duas semanas em Bagdad.
Dirão que "Bruxelas é nossa", e a discussão é antiga. Mantenho a minha posição: o único "nós" que conheço é o do mundo ameaçado pelo terror. Sinto vergonha se hoje chorar Bruxelas mais do que chorei Bagdad há duas semanas.

Não precisam de ser como eu, façam como muito bem vos aprouver. Mas não me obriguem a ser quem não sou.


8 comentários:

Júlio de Matos disse...


Subscrevo.

Olympus Mons disse...

Cara Helena, como eu a entendo.
Mas não concordo. Na verdade o que não entendo é que não havendo "nós" e "nossa" a Helena imigrou para a Alemanha. Não foi nem para Singapura (com excelentes ofertas de emprego) nem para o Dubai (outro sitio com oferta de emprego), tudo sítios onde ainda pagam melhor do que na Alemanha. Por isso esse seu “mundo” é relativo, não é? O seu mundo é o mundo… mas do conforto de uma Alemanha. Da cultura europeia e jovem de uma Berlim, Dos pilares morais Hadtianos tão vem implementados aí, de toda uma ética luterana bem confortável, uma ética de trabalho Protestante…. Pois tanto mundo que cara Helena se banha… tanto mesmo.
Não se preocupe. Pelo que vejo na televisão vai chegar a Hamburgo primeiro. Mas é questão de tempo até a apanhar a si em Tegel.

ngoncalves disse...

Em Bagdade não conheço ninguém, em Bruxelas existem uns 50 mil portugueses. Quer que as pessoas não se indignem quando os seus familiares e amigos estão em perigo ?

Helena Araújo disse...

As pessoas podem indignar-se como muito bem entenderem, não tenho nada com isso.
Eu é que não consigo indignar-me mais com uma bomba do que com outra, só porque acontece num sítio que conheço, e pode haver conhecidos meus entre as vítimas. Aliás: não sei porque é que uma vítima portuguesa que não conheço devia chocar-me mais do que uma vítima iraquiana que não conheço.
Somos todos seres humanos, somos todos potenciais vítimas deste inimigo desalmado e louco - e cada pessoa que morre deixa um vazio sem fim.

Lucy disse...

Totalmente de acordo, Helena, temos uma casa comum e não devia ter upstairs downstairs...

Helena Araújo disse...

Olympus Mons, desculpe, mas não entendi o seu comentário.

Helena Araújo disse...

Lucy, Júlio de Matos,
estamos de acordo, mas também podíamos não estar, e não havia crise. Não deixemos que o terrorismo nos faça perder de vista os nossos valores essenciais, tais como o direito de cada um a ter a sua opinião.
:)

CCF disse...


Cara Helena, compreendo em parte o seu ponto de vista. De um ponto de vista racional tem toda a razão, qualquer ser humano é igual em direitos a um outro, independentemente da nacionalidade, etnia, etc. Todas as mortes deviam ter o mesmo relevo.

Contudo, há uma componente afectiva, um património de afectos tecido até pela memória que também habita cada ser humano, ligando-o naturalmente mais a uns do que a outros. Para perceber o mundo também temos que usar essa componente. O povo de Bagdad ou de Istambul também deve achar que Bruxelas é longe, devem doer-lhes menos estes atentados do que os que matam nas ruas deles. Talvez eles tenham menos voz, menos espaço na comunicação social...mas como estamos a ver "deste lado" do mundo, não sabemos bem como é que estas coisas passam lá...

Como seres humanos compostos de sentimentos que somos, é natural que a primeira coisa em que pensemos seja se há alguém que conhecemos entre as vítimas, por esses choraremos mais e mais intensamente. Respeito muito a sua posição mas compreendo também a daqueles que comentaram em sentido contrário.

~CC~