29 fevereiro 2016

Berlinale 2016 - dia 9



Mais uma travessia do Tiergarten, mais uma fila dos bilhetes às oito da manhã.
Entrei no Berlinale Palast para a primeira sessão de jornalistas. À entrada, perguntei se tinha boas hipóteses de ver também o filme do meio-dia. A senhora riu-se: "Isto agora é só para sobreviventes! Vai haver lugar para todos".
Parecia que estava na Filarmonia: só se ouvia gente a tossir na sala.

Ao meu lado estava um jornalista dinamarquês. Ficou todo satisfeito com os meus rebuçados de menta japonesa. Falámos do Michael Moore, que ele iria entrevistar em breve. Pedi-lhe que lhe perguntasse porque é que insiste em forçar a nota até ao ponto de perder credibilidade. No caso do filme "Where to invade next" era muito óbvio que estava a transformar factos reais e positivos num conto fantástico de questionável veracidade. O filme fica mais divertido e impactante, mas será que uma mensagem embrulhada em tanto papel de fantasia consegue chegar realmente ao seu destinatário?

O Gerard Depardieu estava quase a sair da conferência de imprensa, e resolvi esperar para pedir um autógrafo no meu bilhete do Saint Amour. Apesar dos derrapanços que tem dado ali para os lados da Rússia, ainda lhe estou muito grata pelo Cyrano de Bergerac, pelo Green Card, por Tous les Matins du Monde, por tantos outros...
Os profissionais dos autógrafos estavam todos a postos, e ficaram muito entusiasmados quando descobriram que eu falo francês. Era o joker deles, e queriam que eu gritasse "Gerard, je t'aime!"
Ora, eu aprendi francês no tempo em que, no máximo, me permitiriam um "Monsieur Depardieu, je vous aime!"
Não interessa, disseram eles. Grita o que te apetecer, o que é importante é que ele venha para aqui.
Demorou que se fartou, e nós ali na conversa. Um dos caçadores de autógrafos era uma pessoa muito amarga. Destilava ódio contra os artistas - o que lhe assinou com preto sobre preto um cartaz que custava centenas de euros, ou a actriz inglesa que se recusa a autografar para alemães -, destilava ódio contra os colegas, e usou para um uma expressão muito curiosa: "nómada de pessoas", para alguém que vai de amizade intensa em amizade intensa, passando para a seguinte e esquecendo a anterior.

A equipa do Saint Amour saiu finalmente. Eu bem gritava Monsieur Depardieu com a minha voz muito sensual de gripe, mas ele virou para Leste. Sempre o Leste, sempre o Leste.
Um dos caçadores de autógrafos, o mais simpático, conseguiu que lhe assinasse um poster. Posava com ele, feliz e orgulhoso como se fosse um peixe de 20 kg.
Eu consegui um autógrafo do Vincent Lacoste. Feito a caneta fina, mal se vê. Mas disse-lhe que gostei muito do trabalho dele no filme - e além disso é o mais bonito dos três. Há que transformar em limonadas os actores secundários que a Berlinale te dá.


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