28 fevereiro 2016

Berlinale 2016 - dia 3

Sábado. O despertador tocou às 6:30. A ideia era levantar-me imediatamente, e sair sem sequer tomar café, para estar às 7 da manhã na fila dos bilhetes e tentar arranjar bilhete para o workshop da Meryl Streep no domingo. Mas quando o despertador tocou, fez-se-me de repente luz: nem sequer era um workshop, era apenas a actriz a falar hora e meia para uma sala cheia de pessoas, e para a ouvir teria de faltar a metade do ensaio do coro, e não é correcto comprometer-me com o coro e depois falhar, coitadas das outras contralto que se tentam orientar por mim (pensando bem, sim, coitadas das que têm de se orientar por mim...). De modo que desliguei o despertador, virei-me para o outro lado, e continuei a dormir.

Bastante mais tarde fui passear o Fox, fiz as compras e o almoço, saboreei calmamente o intervalo que me concedi na Berlinale. Cheguei ao palácio da Berlinale à hora a que o Dieter Kosslick, o simpático director, recebia a equipa do Fuocoammare, e vi o sorriso escancarado do miúdo do filme, amoroso.





Gostei imenso do Fuocoammare. Já não é a primeira vez que me acontece: o primeiro filme que vejo, do concurso, ganha o urso de ouro. (Se os autores do Cartas da Guerra sabem, ainda arranjo um sarilho por não ter ido ver a estreia do filme deles, em vez do italiano.)

No fim do filme, o médico - uma pessoa de extraordinária humanidade - fez votos de que o Fuocoammare ajudasse a terminar "esta página suja da nossa História". O realizador não estava tão certo disso. "O cinema não muda muito, mas esperemos que pelo menos foque o nosso olhar durante alguns momentos nesta tragédia". Contaram ainda que mesmo depois de o filme já estar escolhido para a competição da Berlinale, ele ainda regressou à ilha para filmar mais. Só parou em meados de Janeiro.

Depois de passar pela street food da Berlinale (grande ideia que tiveram!), voltei à Audi Berlinale Lounge para espreitar da varanda a chegada da equipa de L'Avenir. Os fotógrafos e jornalistas estavam histéricos: Mia! Mia! Mia!
A Mia deve ser uma grande artista, porque também não vinha vestida para apanhar frio. Embora aquela blusa rendada semitransparente tivesse muito, e só bom, que se lhe diga.
(Era a Mia Hansen-Løve, recebeu o Urso de Prata pela melhor realização.)





Não me apeteceu ir ver este filme. Sim, eu sei: Deus esbanja as nozes sem critério nenhum.
Em vez disso, sentei-me confortavelmente na Audi Berlinale Lounge a assistir a um concerto de jazz com a Jasmin Tabatabai. Depois de ter bebido o café fortíssimo que ofereciam (ofereciam!) junto à entrada.
Aqui fica a informação, para futuros frequentadores da Berlinale: aquele pavilhão junto ao tapete vermelho está aberto a todo o público, oferece café forte a quem quiser, e todas as noites tem música ao vivo.





O David Klein é um excelente músico, um homem com muito sentido de humor, e um doce de pessoa. A Jasmin Tabatabai ocupa bem o palco e canta bastante melhor que eu (mesmo no duche), mas fez umas piadinhas à custa dos outros que me caíram mal.

No fim do concerto fui à estreia do filme neozelandês, Mahana. Os actores principais fizeram uma pequena cena de haka no tapete vermelho. Mas não metiam medo a ninguém.


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