Bastante mais tarde fui passear o Fox, fiz as compras e o almoço, saboreei calmamente o intervalo que me concedi na Berlinale. Cheguei ao palácio da Berlinale à hora a que o Dieter Kosslick, o simpático director, recebia a equipa do Fuocoammare, e vi o sorriso escancarado do miúdo do filme, amoroso.
Gostei imenso do Fuocoammare. Já não é a primeira vez que me acontece: o primeiro filme que vejo, do concurso, ganha o urso de ouro. (Se os autores do Cartas da Guerra sabem, ainda arranjo um sarilho por não ter ido ver a estreia do filme deles, em vez do italiano.)
No fim do filme, o médico - uma pessoa de extraordinária humanidade - fez votos de que o Fuocoammare ajudasse a terminar "esta página suja da nossa História". O realizador não estava tão certo disso. "O cinema não muda muito, mas esperemos que pelo menos foque o nosso olhar durante alguns momentos nesta tragédia". Contaram ainda que mesmo depois de o filme já estar escolhido para a competição da Berlinale, ele ainda regressou à ilha para filmar mais. Só parou em meados de Janeiro.
Depois de passar pela street food da Berlinale (grande ideia que tiveram!), voltei à Audi Berlinale Lounge para espreitar da varanda a chegada da equipa de L'Avenir. Os fotógrafos e jornalistas estavam histéricos: Mia! Mia! Mia!
A Mia deve ser uma grande artista, porque também não vinha vestida para apanhar frio. Embora aquela blusa rendada semitransparente tivesse muito, e só bom, que se lhe diga.
(Era a Mia Hansen-Løve, recebeu o Urso de Prata pela melhor realização.)
Não me apeteceu ir ver este filme. Sim, eu sei: Deus esbanja as nozes sem critério nenhum.
Em vez disso, sentei-me confortavelmente na Audi Berlinale Lounge a assistir a um concerto de jazz com a Jasmin Tabatabai. Depois de ter bebido o café fortíssimo que ofereciam (ofereciam!) junto à entrada.
Aqui fica a informação, para futuros frequentadores da Berlinale: aquele pavilhão junto ao tapete vermelho está aberto a todo o público, oferece café forte a quem quiser, e todas as noites tem música ao vivo.
O David Klein é um excelente músico, um homem com muito sentido de humor, e um doce de pessoa. A Jasmin Tabatabai ocupa bem o palco e canta bastante melhor que eu (mesmo no duche), mas fez umas piadinhas à custa dos outros que me caíram mal.
No fim do concerto fui à estreia do filme neozelandês, Mahana. Os actores principais fizeram uma pequena cena de haka no tapete vermelho. Mas não metiam medo a ninguém.
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