Estou assim: só acredito quando vir.
A última mensagem que recebemos foi na madrugada de domingo, de Chicago. Que parecia provável chegar a Berlim às 7:50, e que ia tentar encontrar um banco qualquer onde dormir. O avião saía no dia seguinte à tarde. Depois disso, não soubemos mais nada. Nem sequer em que avião vinha, nem a que aeroporto chegava. Descobri que não teria jeito nenhum para ser a mãe do Vasco da Gama. Isto de ter o rapaz a dar a volta a meio mundo sem mandar notícias mexe-me com os nervos. Comecei logo a imaginar filmes.
Esta manhã fomos para o aeroporto que nos pareceu mais provável, esperar o avião que em princípio seria o certo. A uns metros de entrar na auto-estrada, o telefone tocou. Era o Matthias, a falar do telemóvel de uma hospedeira, para avisar que havia um problema técnico e ainda não podiam sair. Voltámos para trás. Ando há dois dias a dizer que só compro os croissants para o pequeno-almoço depois de termos o rapaz dentro do carro, mas resolvi dar o dito por não dito, e fomos comprar um saco enorme de croissants e pãezinhos. Voltámos para o aeroporto, tirámos do carro tudo para o receber: o Fox, o cartaz e as flores de boas-vindas, e um casaco de inverno. Os amigos dele foram chegando. O avião, esse, nem sinais. O voo dele foi cancelado, entretanto caiu um nevoeiro horroroso em Frankfurt, começaram a cancelar e a atrasar voos, nós sem saber se havíamos de o ir esperar para a porta 8, ou 9, ou outra. Até que o telefone tocou outra vez, e era o Matthias a dizer que se fartara de esperar pelo avião e vinha de comboio. Agora, se não adormecer e não se esquecer de mudar de comboio em Erfurt, e se não houver avarias nem nevoeiro nem o diabo a quatro, é possível que chegue a Berlim por volta das duas da tarde. De hoje, em princípio.
Regressámos a casa, tomámos o pequeno-almoço sem ele. Os amigos são óptimos: muita risota, muitas histórias, agradeceram o pequeno-almoço, arrumaram a cozinha, e agora estão a aquecer-lhe a cama. Excepto o que resolveu aproveitar o tempo para lhe instalar no quarto uma ligação de luxo à internet. O Matthias ainda não regressou, mas a casa já começa a recuperar a energia alegre do tempo dele.
1 comentário:
Surpreende-me sempre o contraste entre o discurso tecnológico que a espécie humana já tem tudo sob controlo e estas disrupções enormes causadas pela meteorologia. Até a neve nas locomotivas do Eurotunel há um par de anos, que eu julvava mais imunes ao mau tempo...
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