Sintetizo (em tradução apressadíssima) dois artigos publicados recentemente na Alemanha:
1. Parem de fazer de conta que tudo isto é novo!
Steffi Dobmeier, Hamburger Abendblatt
Depois dos acontecimentos da passagem de ano, a violência contra as mulheres está a ser instrumentalizada. Além de ser insuportável, desvia-nos do assunto.
Resumo:
- De repente, desatam todos a falar da violência sexual como se tivesse sido inventada na noite da passagem de ano. Como se nunca tivesse havido protestos antes.
- Todos os dias há casos de mulheres importunadas, apalpadas, gozadas. Em todas as cidades, e não apenas na passagem de ano. Às vezes basta um "pára com isso!", outras vezes, infelizmente, não é suficiente.
- A violência sexual existe mas é ignorada. Só quando dá jeito à linha de argumentação dos "cidadãos preocupados" é que se torna importante?
- Os culpados são grandes ou pequenos, novos ou velhos, isolados ou em grupo, de Potsdam ou Munique, Praga, Londres ou Istambul. Não importa a sua origem. Todos eles são idiotas, cabrões, machistas sem respeito. Usar a sua origem ou cultura para justificar ou para os atacar humilha ainda mais as mulheres, porque transforma estes ataques naquilo que não são: uma questão política.
- Uma mulher que é importunada deste modo não quer saber qual é a dimensão política desse acto. Não quer saber qual a língua, a religião ou a nacionalidade do agressor - quer que a deixe em paz, e que responda pelos seus actos. O que não quer, de certeza, é ser transformada no motivo de um debate político, ou tomar parte nele. E nem mencionemos os bons conselhos que lhe queiram dar.
- Não queremos manter uma determinada distância em relação a desconhecidos, usar calças em vez de vestidos, evitar o bâton vermelho se nos apetecer usá-lo. Queremos fazer parte de uma multidão, festejar, dançar. Queremos tocar homens, e ser tocadas sem ter um ataque de histeria, queremos poder flirtar e dizer não.
- Um mob gigantesco como o de Colónia, no qual aparentemente houve um vazio jurídico e os direitos das mulheres foram espezinhados, representa de facto uma nova dimensão. Independentemente de se tratar, como aparentemente terá sido, de um bando de carteiristas que usa este método para roubar pessoas, e que terá evoluído para uma horda incontrolável de agressores sexuais.
- Pode ser que haja algo novo nos acontecimentos de Colónia. O que não é novo é que as mulheres são, de facto, vítimas de avanços desagradáveis por parte dos homens, e de violência sexual. Para falar deste assunto, não é necessário esperar por um número elevado de refugiados, uma sociedade desconcertada e políticos desgastados.
2. A essência da questão
Margarete Stokowski, Spiegel Online
A histeria racista na sequência dos ataques em várias cidades alemãs prejudica as vítimas porque impede um verdadeiro debate sobre a violência sexual.
- É tão nojento. O debate sobre os imigrantes muçulmanos atingiu um novo ponto alto de histeria.
- As vítimas destes ataques não importam. Servem apenas para descrições chocantes sobre roupa interior rasgada e dedos metidos em orifícios corporais, e para os "cidadãos preocupados" e os nobres cavaleiros se armarem em protectores das mulheres.
- Fala-se em repatriamento dos refugiados, embora não se conheça ainda a nacionalidade dos culpados. E esta ainda é a parte relativamente séria do debate.
- De forma simplificada, os culpados já não são indivíduos isolados, mas tornaram-se uma massa difusa de estrangeiros tarados, descrito com vocábulos relativos a animais: "atiram-se em matilha às mulheres", "uma turba da região árabe/norte-africana". No twitter fala-se em "primatas" e "macacos".
- A narrativa racista "homem preto viola mulher branca" entrou em força.
- A essência da questão é a ideia de que o estrangeiro se asselvajou - se é que não foi sempre selvagem - e toma para si aquilo que outros sempre quiseram: mulheres e i-phones.
- Quem lembra que a violência sexual não foi trazida para a Alemanha pelos refugiados é acusado de querer desvalorizar o que aconteceu em Colónia. Feministas que escrevem há anos e décadas sobre esta forma de violência são acusadas de querer mudar de assunto para proteger os culpados de Colónia - o que é absurdo e mostra como o debate descarrilou. Como se alguém gritasse "a cozinha está a arder!" e outro dissesse "a sala também!", para o primeiro perguntar "ah, então não queres chamar os bombeiros?"
- Perguntam-me porque é que, sendo feminista, não escrevo nada sobre estes ataques. A verdade é que devia ter havido um debate sobre violência sexual depois de cada maldita Oktoberfest, depois de cada Carnaval e depois de cada milha festiva dos mundiais de futebol. Mas não houve. Porque ninguém se quer incomodar com este assunto desagradável, e reconhecer a dimensão do fenómeno. Num estudo europeu, 55% das mulheres revelaram ter sido vítimas de importunação sexual.
- É óbvio que temos de falar sobre as relações de género nos países árabes e do norte de África. Mas isso não chega. Esta discussão não pode ser objecto de outsorcing, e transferida para os estrangeiros. Claro que isso desculpabiliza. Mas mesmo que todos os homens com origem estrangeira fossem expulsos da Alemanha, continuaria a haver violência sexual em grande escala: importunações, abuso, violação. Grande parte destes casos ocorre no círculo de relações da vítima: o culpado é o parceiro, o ex-parceiro, o vizinho, o colega, o professor.
- Agora que chegam notícias de Colónia de que terão sido estrangeiros, insinua-se que é por isso que a rede feminista está tão silenciosa. Ou se culpa a mulher por ter sido vítima de violência sexual, ou se identifica "o estrangeiro" para ter um culpado.
- Os "cidadãos preocupados" transformam-se em nobres cavaleiros que têm de proteger as "nossas" - ou seja: as "deles" - damas. O bom alemão quer guardar as suas mulheres para abusar delas ele próprio. E fá-lo com empenho. Sobre isso, há estudos que podem ser lidos.
- No fundo, depois dos acontecimentos de Colónia cada um diz o que já dizia antes, mas agora diz mais alto: quem antes já queria repatriar os refugiados, agora quer repatriá-los com mais rapidez e dureza; quem antes já queria mais controle, agora quer ainda mais controle.
- O facto de não se falar da violência sexual torna evidente que ninguém está preocupado em proteger as vítimas e evitar novos ataques.
- É necessário uma mudança radical no modo como nos posicionamos em relação à violência sexual. Desvalorizar e tolerar este fenómeno também faz parte da cultura alemã. As mudanças implicam: colmatar as lacunas na Lei, de modo a abranger todos os actos sexuais realizados contra a vontade de uma pessoa; fazer sugestões de comportamento a potenciais agressores, e não apenas às potenciais vítimas; mais gabinetes de apoio; acesso mais fácil a acompanhamento psicológico de vítimas deste tipo de violência; casas-refúgio para mulheres vítimas de violência doméstica. Alguns passos seriam muito fáceis, e até gratuitos: já seria uma grande ajuda se os media deixassem de chamar "escândalos sexuais" a casos de violência.
- Na realidade, as vítimas dos ataques de Colónia vão ser agora usadas para preencher o primeiro grande escândalo do ano. No fim, serão esquecidas. Continuará a existir violência sexual na Alemanha, mas o tema estará ultrapassado. Por isso, talvez fosse preferível nem falar disto.
16 comentários:
Agradeço a tradução, que mostra bem como o "feminismo" de hoje em dia segue a sua própria agenda, completamente alheia aos interesses das mulheres que deveria defender.
Como podem as autoras falar do "aproveitamento ideológico" dos crimes se elas mesmas partem de um campo ideológico perfeitamente pré-definido? E como se pode negar de forma tão ligeira a dimensão essencialmente política de crimes em larga escala levados a cabo por uma percentagem possivelmente significativa de elementos pertencentes a um determinado grupo(seja este grupo definido pelo género, etnia ou religião) contra elementos de um outro grupo? Acaso usamos esta linguagem, quando reportamos violações ou outros crimes de guerra? Vamos dizer que as mulheres bósnias violadas em massa pelos sérvios foram instrumentalizadas para atacar os homens sérvios no seu todo? Mas a questão principal é: como é possível esperar-se que problemas deste tipo não sejam resolvidos politicamente?
Inteiramente de acordo com a Catarina. Este tipo de reacção "feminista" infelizmente não me surpreende. É verdade que as nossas sociedades estão longe de ser perfeitas, muito longe. Agora, recusar ver a evidência é, esse sim, um acto político político perigosíssimo. Vivo há mais de 30 anos no norte da Europa. As agressões e violação de que fui vítima (como aliás os meus filhos e namoradas) foram SEMPRE cometidas por pessoas da mesma origem culturas. Mas dizê-lo é tabú. Que falta de respeito pelas vítimas (mulheres E homens, por exemplo, gays).
Catarina,
o problema é que a solução política (e o debate público) deste problema está a ir mais na direcção de expulsar refugiados que na de proteger as mulheres. Alguém acredita que basta expulsar refugiados para que as mulheres que vivem na Alemanha fiquem mais protegidas?
Respondendo às suas questões:
1. Qual é, em seu entender, a agenda própria destas feministas? Em que medida é que é alheia aos interesses das mulheres que deveria defender?
2. Qual é esse "campo ideológico pré-definido das autoras"?
3. O primeiro grupo, o dos agressores, ainda não está identificado. O segundo, é fácil de identificar: mulheres. Porque é que o debate político se está a centrar nos refugiados, todos os refugiados, quando já sse sabe que nem sequer eram só refugiados? Acha bem que o debate político se vire para os refugiados, em vez de se focar no problema da violência de género?
Vera,
a questão de que fala é muito importante. Não se pode fechar os olhos a um dado específico e tão importante deste problema.
Mas o que está a acontecer na Alemanha, neste momento, é que só se está a olhar para esse dado específico, e está-se a esquecer a questão de fundo, que é a violência de género. Pior: está-se a fazer de conta que se olha para esse dado específico, instrumentalizando-o ao serviço de agenda prévia a estes ataques, e que se resume a isto: não queremos cá refugiados.
Vera, entretanto ocorreu-me que as agressões sexuais (inclusivamente de cunho pedófilo) de que eu e a minha irmã fomos vítimas foram SEMPRE cometidas por pessoas da mesma origem cultural: portugueses de pele bem clara.
Os acontecimentos em Colónia chocaram-me imenso. Mas o que mais me surpreendou foi conhecer tão bem a "música" que se ouvia nos vídeos. Aqueles assobios, aqueles gritos entusiasmados de machos perante a presa. conheço-os, infelizmente demasiado bem, das ruas portuguesas. Por isso acho tão estranho que em Portugal as mesmas pessoas que acham graça aos assobios quadrados e aos "piropos" critiquem tão duramente os estrangeiros que fazem isso. Como se não houvesse ligação directa, como houve em Colónia, entre os assobios e os apalpões.
"Alguém acredita que basta expulsar refugiados para que as mulheres que vivem na Alemanha fiquem mais protegidas?" A pergunta a ser feita não é essa. É antes se alguém acredita que as mulheres ficam mais protegidas se se expulsarem as centenas de milhares de homens jovens solteiros e desacompanhados vindos directamente de países onde a brutalidade sobre a mulher é a regra e que se instalaram na Europa numa proporção absurdamente elevada em relação às suas congéneres do sexo feminino (estas terão ficado a apanhar com as bombas? foram vendidas aos sauditas ou aos combatentes do ISIS para pagar a viagem dos irmãos até à Europa? foram lutar? ficaram nos campos de refugiados da Turquia? porque é que estas perguntas foram abolidas?).
Em relação aos pontos:
1 e 2 - Por motivos históricos que não vale a pena estar agora a descrever, as "feministas" são cada vez mais um apêndice dos movimentos de extrema-esquerda, em que a defesa dos direitos das mulheres acaba por ser suplantada pela defesa cerrada do multiculturalismo e da ideia que "somos todos iguais e os conflitos de interesse entre comunidades diferentes e muitas vezes inconciliáveis entre si devem ser silenciados". Segundo esta visão, a violência de género é igual em toda a parte: por exemplo, os crimes de honra muçulmanos são postos no mesmo plano que os crimes de violência doméstica no Ocidente, não obstante os primeiros terem um cunho colectivista, serem levados a cabo pela família de origem da vítima e serem amplamente tolerados e incentivados pela sociedade. O facto de termos em Portugal não sei quantas mulheres mortas pelos maridos transforma-nos na Síria? A equalização da violência não contribui em nada para a sua compreensão e para o seu combate, pelo contrário, ao universalizarem-se as expressões especificamente culturais da violência de género, estas acabam apenas desvalorizadas.
3- O grupo dos agressores está identificado. Se houvesse algum tipo de evidência que os ataques teriam sido levados a cabo por alemães "brancos", o assunto teria sido notíca de primeira página em todos os jornais no dia 2 de Janeiro. Precisamente porque toda a gente sabia que não foram alemães, os media calaram-se. Aliás, nada disto é novo. Há meses que há relatos de inúmeras mulheres refugiadas alvo de violência física e sexual (incluindo prostituição forçada e violações em grupo) nos abrigos por parte de outros refugiados ou migrantes. Os media não querem saber e as "feministas" muito menos. É a típica história que não tem espaço na agenda.
"Acha bem que o debate político se vire para os refugiados, em vez de se focar no problema da violência de género?" A minha resposta é a mesma que dei em cima.
Catarina,
vou ignorar as suas insinuações em forma de pergunta sobre os refugiados venderem as irmãs aos sauditas ou ao ISIS para pagarem a viagem para a Europa. Ou sabe coisas que mais ninguém sabe, ou essas insinuações são um golpe xenófobo muito reles.
Muito me conta sobre as feministas. Tenho nas minhas relações feministas xenófobas, outras que, sendo de esquerda, defendem as mulheres acima de qualquer contexto cultural. Não conheço nenhuma feminista como as que descreve. Estou a ver que só me saem é duques...
Não entendi muito bem a lógica nos pontos 1 e 2: as feministas que são um apêndice dos movimentos de extrema-esquerda põem os interesses das mulheres atrás de uma visão de igualdade e de silenciamento dos conflitos entre os grupos. Mas a seguir apontam os crimes de honra como sendo crimes de violência de género. Afinal o seu problema com as feministas não é elas esquecerem os interesses das mulheres (pelos vistos não esquecem), mas recusarem-se a distinguir violência de género conforme seja "individual" ou "comunitária"?
O facto de em Portugal haver todos os anos largas dezenas de mulheres assassinadas à mão dos companheiros ou ex-companheiros não nos transforma na Síria (que Síria, já agora?) mas impede-nos de apontar o dedo aos outros como se tivéssemos alguma espécie de autoridade moral. Seja às mãos dos irmãos, seja do marido, assassinada é assassinada.
Quanto ao mais, parece-me que não leu ou não conseguiu entender os artigos que traduzi. O que elas dizem ambas é que a violência contra as mulheres não é uma coisa que surgiu na Alemanha na passagem para 2016, e que temem que se use este surto assustador de violência para ajustes de contas partidários na questão dos refugiados, em vez de se olhar a sério para o problema da violência de género. Ou seja: o modo como o debate actual está a decorrer "não contribui em nada para a sua compreensão e para o seu combate" (para usar as suas palavras).
3 - Mais uma vez parece saber coisas que eu não sei. Tem provas de que os media se calaram todos porque sabiam que havia refugiados envolvidos e preferiram não levantar ondas?
acabei de ver na Sic noticias uma jovem alemã e vincar precisamente o mesmo ponto.
E eu passei a noite a traduzir mais um artigo, não vi nada! :(
Claro que não poderíamos ter uma discussão sobre refugiados sem que alguém grite, de forma, aliás, originalíssima, "xenofobia!". Parabéns. Conseguiu fazer convergir enfim a discussão à sua desejável normatividade.
Por acaso a venda de raparigas sírias pelas famílias desde que começou a guerra até é um facto bastante documentado, basta fazer uma pesquisa rápida no google. Para quem se mostra tão conhecedora da problemática dos refugiados, parece-me que tem algumas falhas informativas.
Quanto aos media, posso dizer-lhe que soube dos acontecimentos logo no dia 1 ou 2 de janeiro através de um artigo da "imprensa alternativa" que me apareceu no mural do facebook. Agora vamos lá pensar um bocadinho porque é uma notícia a que eu tive acesso abrindo simplesmente o facebook no dia a seguir ao ano novo demorou cerca de 5 dias a aparecer na imprensa "mainstream". Em plena época de partilha instantânea da informação, os jornalistas precisaram de 5 dias para confirmar com as autoridades de Colónia se aquilo não era uma conspiração de "xenófobos"? Ou aquilo era material que não interessava dar a conhecer ao grande público? Não é difícil chegar a uma conclusão.
Não vou alongar-me mais, cansa-me entrar no jogo absurdo de equiparar a vida das mulheres nas sociedades ocidentais com a vida das mulheres em culturas onde se continua a praticar numa frequência pouco desejável casamentos forçados, poligamia, segregação sexual, mutilação genital, crimes de honra, entre muitas outras coisas que nada têm a ver com as nossas práticas. E isso de equiparar crimes de honra a crimes passionais ou de violência doméstica é simplesmente perigoso.
Fico-me por aqui. Até qualquer dia.
Xenofobia - bem me queria parecer que ainda faltava inventar algo de novo, mas por sorte a Catarina inventou: não chamar as coisas pelo seu nome, para não se ser acusado de estar a chamar as coisas pelo seu nome.
Vender as raparigas da família para pagar a viagem para a Europa a um homem - uma coisa é saber que há famílias em tal estado de necessidade que vendem as suas próprias filhas. Outra coisa é insinuar, como a Catarina fez, que estes homens que chegam à Europa o fizeram à custa da venda das suas irmãs ou filhas. Isso é xenofobia. As perguntas que quer que se faça ("estas terão ficado a apanhar com as bombas? foram vendidas aos sauditas ou aos combatentes do ISIS para pagar a viagem dos irmãos até à Europa? foram lutar? ficaram nos campos de refugiados da Turquia? porque é que estas perguntas foram abolidas?") denotam uma imagem pré-concebida muito negativa dos refugiados que conseguiram chegar à Europa. Isso não são perguntas, são preconceitos e acusações com um ponto de interrogação no fim. A pergunta séria a fazer é: "de onde vêm, onde está a sua família, como conseguiram arranjar o dinheiro para pagar a viagem?"
(E não posso deixar de pensar nos anos sessenta, quando havia inúmeros homens portugueses a fugir para França a salto, deixando a família em Portugal, enquanto inúmeras rapariguinhas das mesmas aldeias desses homens eram mandadas para o Porto e para Lisboa para trabalhar sabe-se lá a fazer o quê, sabe-se lá em casa de quem. Teria a sua graça algum francês perguntar onde estavam as mulheres, e se teriam sido vendidas para Lisboa para pagar a passagem ao emigrante.)
Quanto aos media - uma coisa é jornalismo sério, outra coisa é jornalismo alternativo. A internet anda cheia de notícias tão alarmantes como falsas, propagadas por esse jornalismo alternativo muito rápido a disparar. O jornalismo sério investiga, procura várias fontes fidedignas e independentes, e só publica depois de tudo confirmado. Quanto a essa notícia ter demorado "cerca de 5 dias a aparecer na imprensa mainstream": é pura e simplesmente mentira. As notícias estão na internet com a respectiva data, só tem de as procurar.
Se quisesse realmente aprender alguma coisa, em vez de estar aqui a debitar a sua cartilha ideológica, podia ler este texto onde um jornalista do Spiegel explica o atraso nas notícias: http://www.spiegel.de/kultur/gesellschaft/debatte-ueber-medienversagen-wir-muessen-mal-reden-a-1071207.html . Está em alemão - esperemos que a sua maravilhosa imprensa alternativa e dê ao trabalho de o traduzir.
Jogo absurdo de equiparar a vida das mulheres nas duas sociedades (e repare que demonstra ter uma visão extremamente optimista e cor-de-rosa da sociedade ocidental, e extremamente pessimista - e generalizante - das outras culturas): quem é que fez isso?
Equiparar crimes de honra e crimes passionais ou de violência doméstica: o que há de perigoso em chamar a atenção para o facto de nos dois casos ser violência exercida sobre as mulheres, por serem mulheres?
Para terminar: percebo que este debate a deixe muito cansada, e que não o queira continuar. Desejo-lhe um bom dia.
A emigração portuguesa para França era de cariz económico, pelo que era um facto reconhecido que eram os homens a ir em primeiro lugar. Ora, supostamente os refugiados fogem da guerra, e se as mulheres, que são sempre as primeiras a fugir, não estão a fazê-lo, então a pergunta "onde estão as mulheres?" é perfeitamente legítima excepto para pessoas como a Helena que não só acha que, por decoro, não devem ser colocadas perguntas desagradáveis, como ainda acredita que estamos na época das notícias de correio chegadas a cavalo ou a burro. Os factos de Colónia apareceram num jornal local de Colónia no dia 1 ou 2 de Janeiro (eu vi o artigo), sendo traduzidos para essa perigosa "imprensa alternativa" que basicamente o que faz é traduzir notícias locais que misteriosamente não aparecem na imprensa nacional de um dado país. Neste caso, apareceram passado 5 dias. O burro, definitivamente, não queria andar, apesar de ter a cenoura à frente dos olhos.
E agora sim vou-me pôr andar daqui para fora. Não lhe quero estragar, de maneira nenhuma, a sua utopia de um admirável mundo novo sem fronteiras em que a única guerra a ser conduzida é aquela que vai derrotar de uma vez por todas a xenofobia congénita e venenosa do homem branco. Passe bem.
Oh, temos aqui uma "toca e foge"?
O exemplo da emigração portuguesa era para chamar a atenção para o perigo das deduções fáceis (sobretudo quando se tem uma opinião pré-formada sobre as pessoas de determinada cultura): português vai para França + rapariga portuguesa vai fazer trabalho semi-escravo para Lisboa = português explora rapariga para ter dinheiro para ir para França.
Sim, há perguntas desagradáveis que por decoro não devem ser feitas.
A pergunta "onde estão as mulheres?" é perfeitamente legítima. Mas não foi essa a pergunta que a Catarina fez.
A Catarina diz que a imprensa mainstream deu a notícia 5 dias depois. Curiosamente, uma brevíssima busca na internet mostra que o site Focus falou disto no próprio dia 1 e o Bild no dia 3 - numa altura em que o número de queixas não chegava sequer a 10% do número mais recente, e ainda ninguém se tinha dado realmente conta da dimensão do caso (se lesse os artigos que me dei ao trabalho de traduzir, saberia que a sociedade alemã está habituada a não fazer notícias sobre violência de género em grandes eventos como o carnaval ou a Oktoberfest, pelo que o que foi realmente novo nos media foi alguns falarem tão cedo de um grupo de homens a apalpar e importunar mulheres. Isso não costuma ser notícia.).
É pena pôr-se a andar daqui para fora. Gostava mesmo de conseguir abrir uma janelinha nesses seus óculos de nós-somos-tudo-boa-gente (excepto as feministas e o pessoal do politicamente correcto) e todos-os-outros-são-perigosíssimos.
Volte sempre.
http://www.dailymail.co.uk/news/article-3389734/Why-Britain-worried-flood-young-male-migrants-Leader-lawyer-s-son-immigrants-gives-stark-warning.html#ixzz3weduH2Tn
Nightwish, o Daily Mail?!
Acha que isto é sítio confiável?
Desde que li nesse site esta notícia (http://www.dailymail.co.uk/news/article-3230670/Housed-Refugees-fled-Europe-better-life-living-former-Nazi-barracks.html) optei por não voltar a ler o que escrevem. Não preciso de explicar porquê, pois não?
(vi agora que o artigo foi editado dois meses mais tarde. O original começava assim:
"Housed in a notorious concentration camp: Refugees who fled to Europe for a better life are living in former Nazi barracks at Buchenwald where thousands of slave-labourers died after being subjected to medical experiments
21 male asylum-seekers living on site of Buchenwald concentration camp
Men are waiting for the asylum-seeker applications to be returned to them
56,000 prisoners died at the camp between July 1937 and April 1945
Angela Merkel welcomed thousands of migrants to Germany in last week ")
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