07 janeiro 2016

a propósito dos acontecimentos em Colónia na noite de passagem de ano (2)

No site do jornal Die Welt fala-se da distância equivalente ao "comprimento de um braço" que a presidente da Câmara de Colónia aconselhou que as mulheres guardassem em relação a desconhecidos. A notícia inclui um filme, que pode ser visto aqui.
Um resumo:

O narrador começa por perguntar-se sarcasticamente se as mulheres vítimas de abuso sexual na passagem de ano em Colónia não terão sabido respeitar as regras de comportamento propostas por Henriette Hegel, a presidente da Câmara ("as mulheres podem manter uma certa distância, equivalente ao comprimento de um braço, ou seja, não procurar, elas próprias, a proximidade de pessoas que não conhecem e com as quais não têm uma boa relação de confiança").
Esta frase suscita uma onda de escárnio na internet: a distância de um braço como outfit aconselhado para as próximas festas, o braço como unidade de medida para a burrice política, ou pura e simplesmente a incredulidade perante a ingenuidade desta pessoa.
Para animar ainda mais, um jornalista pergunta, em tom provocador, se não será melhor que as mulheres vão de burca para as festas.
Uma jovem entrevistada na rua comenta: "Penso que uma mulher tem o direito de se movimentar livremente, tal e qual como os homens". Outra acrescenta: "É um desaforo dizer-nos como é que nos devemos comportar, porque neste caso as vítimas somos nós. Deviam falar com os homens, e não com as mulheres". Manuela Schwesig, da SPD, ministra da Família, é muito clara: "Os tempos em que nós, as mulheres, não podíamos andar à vontade na rua, ou não devíamos usar mini-saia, acabaram. Não vamos recomeçar o debate sobre o que é que as mulheres devem fazer para evitar estas situações. O que está em causa é o comportamento desses homens."
A presidente da Câmara protesta: a sua frase foi retirada do contexto.

A onda de escárnio não vai parar tão depressa. Aqui ficam algumas reacções no twitter, enquanto esperamos para ver as reacções a esta expressão no próximo Carnaval de Colónia.





 

(fonte: twitter, via n-tv)


Parece-me que o faux pas da presidente da Câmara teve a vantagem de tirar um instantâneo ao país: desde a clareza das frases das jovens entrevistadas à clareza na reacção de outros políticos, não há margem para qualquer dúvida sobre quem é o criminoso e quem é a vítima.
Isto, no que toca à violência sobre as mulheres.
No que diz respeito aos preconceitos, já o caso muda de figura. Tema para o próximo post.


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