07 novembro 2015

colheita deste Outono (1)




Começámos o nosso encontro habitual de La Toussaint, na região de Isère, com um passeio a seguir ao almoço. Nem podia ser de outro modo: o dia oferecia-se com uma beleza quase irreal. 

Festejei o meu 60º aniversário em família, com uma caminhada até ao cume do Grand Paradis. Três dias: o casal, os filhos, o guia. Nas partes mais perigosas íamos presos uns aos outros - sentíamo-nos seguros: se um caísse no precipício, os outros agarravam-no.

No dia seguinte queria levantar-me cedo, mas a cama quente não deixava. Pensei "hoje o sol vai ter de se desenrascar para nascer sem a minha ajuda", e virei-me para o outro lado. Mas vi as nuvens densas pousadas no vale, levantei-me de um salto, e saí para a floresta.  



(Momento "Modas e outras Futilidades": muito satisfeita com as minhas novas galochas - são crocs, levíssimas.)


Nota mental: da próxima vez que não houver nuvens no céu, não vale a pena ir fotografar o nascer do sol. Falta-lhe teatralidade. Dorme-se mais uma horinha, enquanto o sol se vai espalhando alegremente pela paisagem, e só então vale a pena. 


  


Chegar ao cume do Grand Paradis e sentir que nos esperava e acolhia, teve algo de místico e fez-me sentir uma felicidade profunda. A subida mudou-nos: quando regressávamos a terra, os nossos filhos estavam muito mais atentos a cada um dos outros, saboreavam cada minuto daquele tempo conjunto. Ninguém tinha pressa de regressar



O filho de um dos nossos amigos quer casar com uma tunisina. Ela quer celebrar o casamento no seu país, o que implica que ele terá de se converter ao Islão. "É só uma formalidade", dizem. Mas como é possível alguém lembrar-se de exigir do companheiro uma mentira como base da formalização de uma vida a dois?




Noutro casal trava-se uma luta difícil contra a morte. E nem essa constante ameaça lhes impede a generosidade: acompanham dois miúdos de uma família com problemas, levam-nos de férias para a Provença, e noutra altura cumprem a promessa de os levar à sua casa de Paris. Ao entrar, os miúdos espantam-se: "ooooh, quadros nas paredes!"
É claro que os levam a passear longamente no Louvre.

Ne plus chercher le bien-être, mais le mieux-être.






Uma das nossas amigas começou a trabalhar como educadora de apoio a crianças da escola primária num bairro com problemas sociais graves.

O meu objectivo é fazer com que as crianças acreditem que não repetirão a vida desgraçada dos pais. Lutar contra o determinismo. Digo aos professores: alimentem a esperança destas crianças. Se não formos nós a fazer isto, ninguém o fará.







3 comentários:

via disse...

Faz lembrar "As nuvens de Sils Maria um filme que vi há pouco.

Helena Araújo disse...

Já me falaram desse filme. Vale a pena?
(quanto às nuvens: é, parece que as paisagens nos Alpes variam pouco... ;) )

jj.amarante disse...

Estas fotos também estão muito bem, referi-as no post de hoje do "Imagens com Texto".