23 setembro 2015

zoo

Como se não tivesse o suficiente com que me entreter, agora participo numa enciclopédia um bocadinho maluca no facebook. Decidi que vou copiar para o blogue alguns dos textos que lá escrevo (sobretudo por causa de uma amiga minha que se recusa a ir para o facebook, e já se queixou que o blogue tem andado abandonado - olá, L.!) e aqui vai o primeiro.

A palavra de hoje era "zoo".

Estou aqui a pensar se conto daquela vez que fui ao zoo e na aldeia dos gorilas vi o gorilão a agarrar num gorilinha que passava perto e zimbas, cá vai disto, enquanto ao longe as gorilas adultas observavam a cena por cima do ombro, com o corpo virado a 3/4 e cara de "é a vida". Nunca mais me vou esquecer da cara de "é a vida" daquelas fêmeas. Desconfio que também a faço.

Os miúdos visitantes não perceberam, os seus pais - especialmente os homens - não conseguiam reprimir os gritos de surpresa, interesse e, temo dizê-lo, entusiasmo. Não sei que deu nos bichos do jardim zoológico nesse dia, que um pouco mais à frente um canguru começou a masturbar-se virado para nós (e aquela coisa de crescerem pêlos nas mãos é verdade: tinha as patas peludas que só visto!). Depois curvou-se para a frente e fez um autobroche. Mas por essa altura já as mães tinham agarrado nos carrinhos de bebé e fugido aos gritos histéricos, "oh my gosh! oh my gosh!" (eu não fugi, estava a olhar para a cena para depois poder contar aqui com todo o detalhe, o meu interesse era meramente jornalístico).

Foi no jardim zoológico de San Francisco. Nós comprávamos o cartão anual de família da Coyote Point Recreation Area, que custava uma ninharia e dava acesso gratuito ao zoo de SF e a uma série de museus da Bay Area. De modo que íamos passear muitas vezes para o zoo ao fim do dia, depois da escola. Mas só nesse dia é que deu a louca aos bichos. A mim, deu uma louca quando vi o crocodilo albino a mexer as patas, aquelas patinhas claras e rechonchudas, parecia mesmo um bebé. Por sorte, entre ele e eu havia uma grade que me protegia de mim própria e do impulso de lhe fazer uma festinha.

Também fomos ao zoo uma vez depois do anoitecer. Havia uma sessão especial para os patrocinadores, e o grupo de capoeira da Christina foi actuar. Entrei como mãe, e o Matthias como irmão, vimos toda aquela gente fina (tenho quase a certeza que vi a DeDe Halcyon-Day!) e todas as serventias com que os tratavam. Nós éramos meros figurantes funcionais, de status ligeiramente superior ao dos animais que foram buscar às jaulas para serem apalpados pelos VIPinhos. À saída, os miúdos pediram um dos sacos com os presentes para as crianças, mas fizeram-lhes saber que eram só para os filhos dos ricos. Os meus devem ter feito cara de "isto é vida?!" de tal modo que uma voluntária teve pena deles e deu um saco a cada um, enquanto resmungava com as outras. Estava cheio de porcarias caras que não servem para nada.

O zoo de San Francisco deve ser dos menos maus que conheço. Esse, e o Wilhelmina em Estugarda. Fui lá há quase vinte anos, quando a Christina era bebé, e tinham acabado de fazer obras para alargar imenso o espaço dos ursos. Menos mau, menos mau. O de Berlim não tem tanto espaço, mas eles tentam fazer o melhor possível (enfim, o melhor possível era fechar os zoos). Estivemos lá uma vez, para ver a aldeia dos hipopótamos quando a refizeram. Tem uma parte de aquário, e quando a água não está turva o espectáculo é extraordinário: debaixo da água, os hipopótamos têm a graciosidade de bailarinas. Agora me lembro que em Berlim há dois zoos: o de Berlim Ocidental e o de Berlim Oriental. A guerra fria também se fez desta competição entre equipamentos urbanos de prestígio.

Em San Francisco não havia dois zoos, mas havia um grupo de bisontes num espaço amplo do Golden Gate Park - outra das nossas paragens favoritas, depois da escola. Uma vez vimos um bisonte morrer. Ele deitado, a tremer, e nós pasmados a olhar para ele. Os miúdos perguntaram o que era aquilo, e eu devo ter respondido algo como "é a vida..." No dia seguinte havia marcas no chão, de ter sido arrastado para um camião, o que tornou tudo mais fácil: a ordem tinha sido reposta.

Os filhos cresceram, nunca mais voltei a um zoo. Apesar das tantas vezes que os visitei, não gosto. Com mais ou menos espaço, é uma prisão para animais que deviam viver em liberdade.

- E então, porque entraste neles, Heleninha?
- Mais ou menos pelo mesmo motivo que me leva a comprar carne para comer, sabendo muito bem as condições terríveis em que esses animais são criados. Quem não tiver telhados de vidro que atire a primeira pedra.


1 comentário:

Lucy disse...

OBRIGADA! OBRIGADA!!