16 junho 2015

onde é que já se viu isto?

Adivinhe onde é que isto aconteceu:

1. Recebi uma carta da companhia de água pedindo para informar sobre a quantidade de água consumida. Não encontrei o contador da água, e enquanto procurava e não procurava veio uma factura para pagar mais 200 euros, informando que era resultado de um cálculo automático. Entretanto já tinha descoberto o paradeiro do contador. Telefonei para a companhia, atenderam imediatamente, e seguiu-se esta conversa:
- O contador não está dentro de casa, está dentro de um buraco à entrada da propriedade. Eu não posso ir lá abaixo porque me disseram que tem gases tóxicos, posso desmaiar e morrer ali mesmo.
- E não pode ir lá com o seu marido?
- Mas se nem temos ferramenta para levantar a tampa...
- Então está bem, mando lá os nossos técnicos. Quando é que podem ir?
- A qualquer hora, a tampa está acessível a partir da rua.
- Muito bem. Os técnicos vão, lêem o contador, e depois enviamos nova factura. Ignore essa que recebeu.
- Obrigada. Só mais uma pergunta: o que devo fazer para pôr um contador para a água de rega?
- Vamos enviar-lhe também uma declaração para ser preenchida pelo instalador que fizer isso. No nosso site encontra os instaladores autorizados. Telefone a vários, porque os preços deles variam muito.


2. Uma amiga minha abriu uma conta bancária há mais de vinte anos, e pediu-me para ser segundo titular da conta, caso lhe acontecesse alguma coisa. Agora quero deixar de ser titular dessa conta, e fui ao banco desinscrever-me. Deram-me um formulário que nunca mais acaba, onde tenho de dizer mais ou menos tudo desde que nasci até hoje, nomeadamente nome dos pais, habilitações, profissão, comprovativo de rendimentos, informações sobre o cônjuge, dados patrimoniais, etc.
E eu, parva, a pensar que bastava mostrar a cara e o bilhete de identidade, dizer o número da conta, e assinar.


3. Fiz um disparate num formulário das Finanças, de modo que fiquei obrigada a fazer uma declaração de IVA todos os meses, sem haver qualquer necessidade disso. Telefonei para as Finanças, atenderam logo, expliquei o problema ("é trabalho para mim e é trabalho para si, e bem podia ser evitado") e responderam-me que infelizmente não podiam mudar isso, porque já estava marcado como variável fixa no sistema informático. Mas que iam falar com o informático a ver se ele podia mudar. Pouco depois ligaram-me a dizer que sim, que o informático tinha corrigido o meu erro lá nos confins do sistema.


4. Ando atrapalhadíssima a acabar a declaração de impostos de 2013. Sim: 2013. Pedimos um prolongamento do prazo. Deram, e nem levámos multa, nem fomos presos, nem nos cativaram a conta bancária, nem nada.


5. Um grupo de vizinhos resolveu organizar uma festa para toda a rua. A parte mais fácil das reuniões é a distribuição de trabalhos. Mal a tarefa é enunciada, já alguém está a chegar-se à frente para a fazer. Na última reunião antes da festa, ao falar sobre o pequeno discurso inicial, no qual se diria que era giro a festa ser organizada todos os anos, sempre por um grupo diferente, um dos membros do grupo atalhou: "eu não sei se quero que sejam outros a fazer esta festa - gostava muito de continuar a participar na sua preparação, ano após ano!"

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1. Berlim
(Sem esperar horas ao telefone, sem fila, sem "a senhora responsável está de férias, volte na próxima semana", sem "pague agora proteste depois" - quanto da produtividade e do bem-estar de um país se pode aumentar com serviços públicos realmente interessados em servir?)

2. ahem...
(Decididamente, estou alemã: ao ver toda aquela lista de perguntas tenho reacções de defesa - para que querem eles saber isto? que lhes interessa? quem vai ter acesso a esta informação? que direito têm eles de me pedir esta informação? não digo!!!) (Na Alemanha, quase nunca me pedem mais do que o nome e a data de nascimento. Às vezes o número de um documento de identificação. Em casos que implicam mesmo confiança entre privados, como quando ando à procura de casa, o futuro senhorio pede uma confirmação de rendimentos e uma confirmação de que tenho um cadastro bancário limpo. Mas não é muito mais que isto.) (Aliás, estou convencida que o sistema multibanco chegou tardíssimo à Alemanha menos por este ser um povo avesso à tecnologia, e mais por desconfiança, por as pessoas não gostarem da ideia de alguém estar a juntar dados sobre elas a partir das operações bancárias que fazem.) (Penso que me recuso a dar aquelas informações, que ninguém me pode obrigar a isso, e lembro-me do refilão na Filarmonia, no domingo passado: "ter, não tenho de fazer nada!" Por algo semelhante - "eu posso estar onde me apetece, isto é um país livre!" - em Guimarães um benfiquista levou uma carga brutal de pancada, à frente dos filhos.)

3. Weimar

4. Berlim (mas se bem me lembro também já foi assim noutras cidades - acho que a única vez em que não entreguei a declaração com atraso foi no meu primeiro ano na Alemanha, porque ainda vinha condicionada de Portugal. Via "Repartição de Finanças" e até estremecia.)

5. Berlim, mas também podia ser a minha aldeia minhota.


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