13 maio 2015

momento nonsense do dia (2)





Na segunda-feira contei a brincar que não pude levar o Fox a um seu habitual Passeio das Necessidades porque estava lá um ministro israelita. Errado: não era ministro, era o presidente da República, mais o seu homólogo alemão, e respectivas comitivas e outros acompanhantes. No noticiário da noite vi que tinham recitado um kadish junto à linha de comboio por onde partiram  mais de 10.000 judeus berlinenses com destino aos campos de concentração.

Ontem passei pelo memorial, e vi as coroas de flores que lá foram pousadas pelos representantes máximos  dos dois países. Uma vizinha passou e quis saber o que se passara. Falei-lhe das notícias, contei do aparato policial no dia anterior, das ruas tão completamente barradas que nem ao supermercado me deixavam ir, falámos um pouco sobre esse memorial e as flores de homenagem, e ela às tantas teve uma ideia maluca: "e se levássemos as coroas para casa?"
Ri-me, ela acrescentou que ficavam lindamente penduradas na porta da rua, escolhemos quem ficava com a maior (queríamos ambas a mais pequena), decidimos que a alemã tinha cores demasiado berrantes e por isso não interessava...

...e de repente caí em mim, e senti-me embaraçada por estar a rir de humor nonsense junto ao sítio de onde saíram milhares de pessoas, muitas delas com destino directo às câmaras de gás.

(Que poesia, que riso é possível depois de Auschwitz?)
(Berlim treina-nos quotidianamente na difícil arte de lembrar sem se deixar derrotar pela memória.)


2 comentários:

Célia disse...

(Berlim treina-nos quotidianamente na difícil arte de lembrar sem se deixar derrotar pela memória.)

Quando parei junto ao Memorial, até pela sua situação, extensão e grandiosidade, foi essa a minha conclusão.
E é bom que Berlim não descure nunca esse treino.
Gostei de a ler, mais uma vez.

Helena Araújo disse...

Obrigada, Célia.
Alguém disse uma vez, perante esse memorial, que Berlim sabe lembrar sem drenar a energia das pessoas.