28 abril 2015

pura vida - a caminho do Pacífico



No aeroporto, o senhor do rent-a-car avisou-nos que, por ser o fim-de-semana da Páscoa, a auto-estrada para o litoral podia estar fechada, porque, para facilitar o regresso à capital, a partir de determinada hora usam todas as vias para a direcção litoral-San Jose. Mas que não tinha mal, porque o caminho pelo meio da montanha é lindíssimo.
Passámos a primeira noite em San Jose, num hotel chamado "Casa 69". O Matthias comentou que a princípio desconfiou que seria outra coisa, e rimo-nos. É bom ter filhos grandes com os quais nos podemos rir destes disparates.
De manhã, sábado da Semana Santa, passeámos pelo centro, que estava calmo e desafogado. Vi numa loja uma espécie de gelados feitos de arroz doce com vários sabores. Se quisesse aproveitar este nicho de mercado, aposto que nunca me iria faltar como cliente...
Entrámos no mercado, que é onde melhor sinto as cidades que me são novas. O de San Jose é desarrumado: as lojas para turistas ao lado das bancas de legumes, os corredores estreitos e labirínticos. E por todos os lados pessoas sentadas em frente a balcões simples, a comer almoços com aspecto delicioso. Por mim ficava ali o dia todo, mas tínhamos de nos largar à estrada, para ir dormir numa praia do Pacífico.

Tal como nos tinham avisado, a auto-estrada estava fechada, pelo que fizemos todo o caminho até à costa numa estrada de terra batida (enfim, pedra batida) que ia conquistando o caminho pelo meio dos montes e da selva. Tal como o senhor dissera: lindíssimo.

Há muitos anos, numa daquelas férias na praia em que desligava o cérebro e lia as selecções do Reader's Digest, li um artigo sobre a Costa Rica que me deixou a impressão de ser a terra prometida. "Tão fértil que tudo pega de estaca, até os postes de electricidade", estava escrito. Foi há quase meio século, e nunca mais o fascínio dessa terra me largou. E ali estava eu, a atravessar a selva prodigiosa, como se fosse um sonho. Até que, a pouco e pouco, a selva começou a mostrar as agressões de que é vítima: carecadas enormes nas encostas íngremes, um verde seco que era pasto de vacas magras. Lembrei campanhas diversas contra as queimadas, denúncias sobre o modo como se destrói a floresta tropical para ganhar pasto para os futuros hamburgers baratos das cadeias de fast food dos países ricos. Voltei ao artigo das Selecções: talvez não fosse inspirado pela poesia, mas pela cobiça.

Numa curva da estrada no meio da montanha aprendemos a nossa segunda palavra-chave para estas férias: "soda". Restaurantes simples, frequentados pela população local, com comida tradicional, saborosa e a preço acessível. Pedimos "casados",  e um caldo de carne muito macia, acompanhada por legumes que tentámos decifrar.

(o lavatório desta soda ficava do lado de fora da janela)

Chegámos ao Pacífico ainda a tempo de dar o primeiro mergulho das férias antes do pôr-do-sol, numa água maravilhosamente morna.
Na Costa Rica a noite cai cerradíssima às seis da tarde. Esta mistura de temperaturas de Verão e horários de Inverno deixa-nos um pouco desconcertados. Sentindo que era tardíssimo, apesar de não ser ainda nem sete da noite, jantámos no nosso hotel, o Tucan Lodge em Uvita. É um sítio agradável: meio hippie, meio latino, com um ar muito genuíno. Simples, descontraído e acolhedor. A vida acontece no salão central, que mais não é que um telhado enorme sobre o espaço entre os edifícios compridos laterais onde estão os quartos. Sentados no restaurante, deitados na rede, a jogar snooker ou simplesmente por ali, olhamos para a vegetação diversa e frondosa do jardim que vem até aos nossos móveis, sem saber muito bem onde acabamos nós e começa a natureza. Ali, a senha da internet é - e como poderia ser outra? - "pura vida".  Santo-e-senha destas férias.





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