28 abril 2015

ARtMENIANS - debate sobre o filme



Tenho recebido mensagens de pessoas que manifestam vontade de falar sobre o filme. Na impossibilidade de nos juntarmos numa sala a conversar, fica aqui a proposta: podemos usar a caixa de comentários deste post.

Para começo de conversa, copio para aqui uns excertos do facebook, da Ivete Mora, que transcreveu parte da entrevista do director do Cafesjian Center for the Arts, quando respondia à pergunta "porquê investir em cultura num país com dificuldades económicas tão grandes?" A resposta dele:

"A cultura é como um espelho onde as pessoas se podem ver. É um reflexo.... E a cultura, que unifica todas as formas de arte, é uma forma de moldar as pessoas. E quando as pessoas percebem o poder desse instrumento, e querem fazer uma mudança, começam a investir nessa área, para que essa mudança possa acontecer"

E o comentário no facebook: "O desinvestimento é, claro, a outra face da moeda, com resultados opostos: é a lógica..."

É por aí: um país bem mais pobre que o nosso, com dificuldades bem maiores, mas que desde sempre percebeu que a Cultura é um bem essencial.


6 comentários:

Acordes Imperfeitos disse...

Este filme levou-me a vários pensamentos.
Lembrei-me da preocupação de Ratzinger quanto à homogeneização e suas consequências. Afirmava ele que o que enriquecia a humanidade era precisamente a diversidade de culturas e não o contrário.
Impressionou-me o empenho do povo arménio na preservação da sua cultura. A consistência, a fidelidade. Perguntei-me quantos artistas abdicariam de uma carreira promissora para ficarem com os seus, porque são necessários aos seus.
Chamou-me a atenção todos os pormenores a bem da memória: o escrever no livro, o livro que teve que ser rasgado por ser demasiado pesado, a menina que declama o poema de Charent ( e simultaneamente penso que a maior parte dos jovens não sabe o hino nacional), o memorial.
Não pude deixar de sorrir pela felicidade estampada no rosto daquela mulher que tem uma janela virada para o Monte Ararat e a esperança que não morre.
O director que sabe que a cultura é a coluna vertebral de um povo.
E como não poderia deixar de mencionar, a música de uma belíssima melodia. A melodia da peça de entrada, cujo nome infelizmente não fixei, cantada pelo coro, transmitia serenidade, assim como que um reencontro do homem com a sua essência. (Desculpe esta divagação!)
Disseram-me um dia: "Se quiseres conhecer a alma de um povo, conhece a sua música."
Está tudo dito.

Almeida Darling

Helena Araújo disse...

Obrigada pelo feed back.
Vou levar este comentário para o corpo de um post, e comentar lá.

Helena Araújo disse...

Aqui está:
http://conversa2.blogspot.de/2015/04/artmenians-debate-sobre-o-filme-2.html

Acordes Imperfeitos disse...

Obrigada pela preciosa resposta! :)

Gi disse...

Estive a ver o filme no sábado.
Achei-o muito interessante, aprendi muita coisa sobre os arménios, ou antes, organizei na minha cabeça muita coisa que tu já tinhas contado.
Estava à espera de ver mais cenas sobre o genocídio, mas faz sentido que seja sobretudo sobre as sequelas dele.
É um bocadinho lento para este tempo de correria; percebo que quisesses que lá coubessem mais coisas mas que o Ricardo não quisesse que ficasse demasiado longo.
Se bem entendi, o monte Ararat não fica actualmente dentro das fronteiras da Arménia, pois não?
A ideia dos livros-memória é impressionante.
Achei as pessoas tristes, ou pelo menos melancólicas, mesmo as poucas que sorriam.
Como poderemos convencer quem manda nos nossos países que a cultura é realmente o que nos define como povos únicos dentro do mundo globalizado, e que quando dizemos isto não estamos a falar de divisão mas de enriquecimento pela pluralidade?

Helena Araújo disse...

Gi,
desculpa só reagir agora. Vamos por partes:
Quisemos sobretudo falar sobre a vida. O que não falta é material sobre o genocídio, e neste ano do centenário ainda mais. Nós estávamos mais interessados em mostrar o que conseguiu permanecer vivo apesar de milénios de guerras, ocupação e perseguições, e como é que esse povo conseguiu sobreviver. Como dizes no fim do teu comentário: é a cultura que nos define e nos permite sobreviver e enriquecer o mundo pela pluralidade.

Achas o filme lento? Eu acho que tem um ritmo vertiginoso, porque cada uma das frases/ideias tem pano para mangas. Gostava de ter incluído mais temas, mas gostava também de poder ter desdobrado cada uma daquelas ideias.
Muitas pessoas dizem que o filme continua a trabalhar dentro delas.

Se bem entendi, o Ararat (e algumas cidades importantíssimas dos arménios, como Ani) estava dentro das fronteiras da Arménia que saiu da primeira guerra mundial, mas a Turquia conseguiu dar a volta e ficou também com essa região.
De modo que o monte mítico dos arménios está a meia dúzia de quilómetros de Yerevan, mas é absolutamente inatingível - a fronteira com a Turquia está fechada. Alguns arménios conseguem ir lá pela Geórgia, mas disseram-me que é uma aventura.

A ideia dos livros-memória é mesmo impressionante, como dizes.

O professor alemão que é entrevistado no filme disse que foi ao Azerbaijão e notou que faltava ali alguma coisa. Depois foi à Geórgia (país cristão) e percebeu que o que faltava no Azerbaijão era o sorriso das pessoas. O Wladimir Kaminer tem uma história onde diz que no Azerbaijão as mulheres não se riem para não correrem o risco de parecer levianas. Não sei - só achei curioso que tanto o Wladimir Kaminer como o Jürgen Znotka falavam do mesmo. Este último foi depois à Arménia e achou que aqui sim, as pessoas eram simpáticas e sorridentes como mais nenhum povo dessa região.
Moral da história: será que filmámos as pessoas erradas? ;)
(Se fores lá, vais ver que são sorridentes. Um pouco melancólicas sim, mas não lhes falta alegria e optimismo.)