Encostas a face à melancolia e nem sequer
ouves o rouxinol. Ou é a cotovia?
Suportas mal o ar, dividido
entre a fidelidade que deves
à terra de tua mãe e ao quase branco
azul onde a ave se perde.
A música, chamemos-lhe assim,
foi sempre a tua ferida, mas também
foi sobre as dunas a exaltação.
Não ouças o rouxinol. Ou a cotovia.
É dentro de ti
que toda a música é ave.
(Eugénio de Andrade)
Há 30 anos perguntava-me: este poema foi feito por mim, ou fez-me?
Com o tempo descobri que o quase branco azul onde a ave se perde é em todos os pontos cardeais, e ainda mais branco azul e ave na terra da minha mãe. Dividida entre todos esses lugares onde sou, sendo diferente em cada um deles, mudo de poeta: ó vida de mil faces transbordantes, pudesse eu não ter laços nem limites...
Não posso. Encosto a face à melancolia, e canto-me a música que vem do quase branco azul dentro de mim.
1 comentário:
Aahh, le bleu... Afinal o quadro fazia sentido, só lhe faltava um pouco de branco ;))
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