27 fevereiro 2015

ver ou não ver, eis a questão




Aqueles... aqueles... aqueles calateboca-que-se-digo-o-que-me-apetece-desgraço-me, aqueles coisos do Exército "islâmico" continuam a criar happenings para obter o máximo efeito mediático. Depois das degolações online em horário nobre americano, agora são ataques à cultura. Corre por aí um filme feito no museu de Mosul, com bárbaros a desfazer à marretada as peças antiquíssimas. (Um dos problemas da barbárie é que é contagiosa: ao ver aquelas imagens, dá-me uma fúria que estava capaz de lhes dar com a marreta num certo sítio. E de canto, para doer mais.)

Não tenhamos ilusões: o único objectivo deles é chocar. Nem sequer se trata de um mob, mais parece que estão a obedecer a ordens: tu, aí, abate esta escultura, tu, aí, filma, tu, aí, põe na internet, aqueles palermas do inimigo vão partilhar, vai ser um sucesso. E nós partilhamos. Fazemos o jogo deles.

Mostrar ou não mostrar?
Tendo em conta que eles fazem isto para nos chocar, parece-me que seria muito mais avisado não partilharmos o filme. Fazer um desenho, descrever. Mas não lhes dar o gosto de milhões e milhões de visualizações no youtube.

Pergunto-me até se a destruição do museu não é uma fase nova nos efeitos especiais, chamemos-lhes assim. Será que as degolações já não têm o impacto desejado, e por isso procuram novas imagens chocantes? Nem quero pensar no que virá a seguir, quando o "público" se tiver habituado às imagens do património cultural a ser destruído. Para o impedir, faço a única coisa ao meu alcance: não partilho as imagens que eles criam para nós. Recuso-me a ser um elo nesta cadeia.

(Mas, está-se mesmo a ver, vou ser a única. Vou parecer a Mafaldinha no recreio da escola, quando descobriu que era a única que não tinha televisão...)


5 comentários:

Pedro disse...

Não és a única. Não só não partilho, como nem sequer vejo. E faço ocultar a quem o partilhar comigo.

Luís Lavoura disse...

Acho que a Helena faz muitíssimo bem. Eu também não visiono nem quero visionar tais imagens.

Cristina Torrão disse...

A única? Et moi? ;)
Quando li essa notícia (sem ver vídeo), fiquei chocada. Quando comecei a ver o vídeo partilhado às dúzias no Facebook, fiquei enfastiada com o chorrilho dos insultos habituais e a falta de imaginação dos "partilhantes". Ainda não vi além de 3 ou 4 segundos. E isto, porque os vídeos começam logo a rodar, sem que eu clique em algum lado.
Enfim, a nota positiva é que as pessoas se indignam.

Gi disse...

Vi na televisão.
Não vejo nada deles online.
O meu pacifismo, que tem diminuído com o passar dos anos diante da selvajaria humana, praticamente morreu.
Não quero mandar os nossos jovens (nossos são todos: portugueses, europeus, americanos, curdos, jordanos) para a guerra, mas quero esses selvagens destruídos.

Helena Araújo disse...

É um bocadinho a quadratura do círculo, não é? Não há como barrar-lhes o caminho sem uma guerra - e pior: que será também contra guerrilha.