03 fevereiro 2015

como se fosse domingo




Hoje era dia de Andreas Ottensamer no concerto do almoço no foyer da Filarmonia. Andreas Ottensamer, que além de ser um clarinetista excepcional, é um bonitão. De modo que fui para o ouvir e também para o ver. Mas lá diz o ditado: o homem põe e Deus dispõe. Ao meu lado estava um grupo de miúdos de infantário, com todo o ar de serem miúdos de um bairro pouco privilegiado, digamos assim, e eu não conseguia tirar os olhos deles. Sobretudo os rapazinhos: estavam completamente apanhados pela música, dançavam sentados, dois deles até valsavam. Completamente apanhados eles, e eu apanhada também por aquela alegria e sensibilidade traduzidas livremente para o corpo. Às vezes ouvia-se uma gargalhada surda. Quando ficaram demasiado agitados uma das educadoras sentou-se entre eles - sem ralhetes, nem pssst, nem nada. Apenas uma presença firme.
Por conta destes miúdos perdi uns bons vinte minutos de regalar os olhinhos no Andreas Ottensamer. E não perdi pela troca.
(Obrigadinha, ó Deus - dispõe sempre.) 




A folha do programa anunciava "Brahms: the Hungarian connection", que é o título do disco mais recente do A. Ottensamer, a sair em Março deste ano.
O clarinetista e o violoncelista (Stephan Koncz) têm ambos raízes austro-húngaras. O pianista era o argentino José Gallardo - andava há vários anos com vontade de o ouvir.
Tocaram (entrem nos vídeos, todas as peças são muito bonitas):

- Bela Kovács  - Hommage à Z. Kodály



 - Leó Weiner - Peregi Verbunk (dança húngara) op. 40



- Leó Weiner - a segunda parte de Két Tétel: Csürdöngölö (hihihi)
(a partir de 2:04)



- Johannes Brahms (finalmente alguém que eu conheço) - Trio para clarinete, violoncelo e piano, o 3º e o 4º andamentos, que neste vídeo começam a 15:26 (o Andreas Ottensamer disse que calhava bem tendo em conta as raízes dos músicos: o 3º andamento era mais austríaco, o 4º mais húngaro)



 - Béla Korény - Hora II (neste vídeo com um violino, em vez do clarinete que ouvi hoje)



A última peça, tocada a trezentos sem travões, electrizou o público. Todos nós suspensos daqueles três no palco, e eles totalmente entregues à vertigem daquela música.



Óptimos músicos, e ao mesmo tempo muito divertidos e bons companheiros. Pareciam amigos, parecia que tocarem juntos lhes dava verdadeiramente prazer. Neste último vídeo nota-se um bocadinho a pinta de boa disposição do clarinetista e do pianista.
Em suma: vale sempre a pena ir ao Lunchkonzert das terças-feiras na Filarmonia, mas hoje até parecia domingo.




2 comentários:

Paulo disse...

O Ottensammer, conheço muito bem. Vi-o na Quinta da Piedade há uns anos, numa bela tarde de Verão. Um regalo a todos os níveis.

Helena Araújo disse...

Todos. :)