31 janeiro 2015

corajosa, a Michelle Obama? pfffff...




Corajosa, a Michelle Obama?
Se fosse uma questão de coragem, muito mais corajosa era a Angela Merkel: o casaco que usou na Arábia Saudita era bem mais curto, as calças mais justas, e o decote era uma extravagância desbragada: desnudava-lhe uns bons 2,5 cm² de colo. Na Austrália foi ainda mais ousada, parecia que lhe deu o vírus Je suis Charlie: até um bocadinho do braço mostrava!


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A onda de admiração que anda pelos jornais e nas redes sociais é um triste sinal da nossa ignorância e arrogância. Tanto queremos acreditar que "eles" são "todos" uns horrorosos machistas retrógrados, que fazemos da Michelle Obama uma heroína, quando ela se limitou a seguir as regras sobre o que é habitual em mulheres ocidentais com altos cargos, ou com maridos que têm altos cargos.
Coragem, o que se chama coragem, teria sido ela cobrir a cabeça em sinal de respeito pelas tradições do país que estava a visitar - porque isso teria dado força aos que nos EUA acusam o casal Obama de serem muçulmanos.
Coragem teria sido ela comparecer na recepção do papa Bento XVI sem cobrir a cabeça. Mas é claro que o véu no Vaticano é uma tradição nossa, não há que questionar, e as moças até ficam bonitinhas com ele, muito elegantes e compostinhas. Um je ne sais quoi même presque rive gauche, e tal.

(foto)

O meu problema é que eu sou muito velha. Lá onde nasci, a minha avó usava lenço na cabeça quando saía à rua. A minha mãe punha um véu para ir à missa, e chamavam-lhe "leviana" porque na igreja se sentava ao lado do marido, e quando lhe apetecia ia ao café com as amigas, e sem nenhum homem da família. Não podia sair do país sem autorização do marido, e tinha uma autonomia jurídica bastante reduzida. No que diz respeito à emancipação feminina, e com maior ou menor quantidade de tecido, a Arábia Saudita está a meia dúzia de décadas de Portugal. Louvemos, pois, a coragem da Michelle Obama: parecemos novos-ricos a rir dos remediados.

2 comentários:

Pedro disse...

Eu fui buscar a Letizia, criticada por não ter usado véu ou mantilha perante o papa pelas pessoas que agora aplaudem a Michelle. A mim, o que me aborrece é mesmo o dois pesos e duas medidas. Sempre o nós e o eles, como se não fossemos todos um.

(e fico-me por aqui, que é sábado e está sol :) )

Helena Araújo disse...

Ai a Letízia, essa descarada! :)

Pois, como se não fôssemos todos um, e como se "nós" fôssemos todos iguais uns aos outros, e eles também.